A estimativa da ONU de termos 9,7 bilhões de habitantes no mundo em 2050 nos traz uma responsabilidade e tanto: suprir a demanda alimentar da população, com qualidade e segurança. Entretanto, com a redução das áreas agricultáveis e a urgência em revermos velhas práticas de exploração de recursos, o desafio está em produzirmos alimentos em grande escala, mas de forma sustentável.

A resposta para esse problema está no uso da tecnologia e da automação de processos — extraordinariamente bem empregadas em fazendas urbanas. O conceito tem ganhado força em diversos países e avança, aos poucos, no Brasil, pois diminui de forma considerável os gastos com transporte e o uso de agrotóxicos, além de utilizar os recursos naturais de modo racional.

Afinal, o que são as fazendas urbanas, como funcionam e como promovem o desenvolvimento da sustentabilidade? É sobre isso que conversaremos por aqui. Continue conosco e entenda!

O que são fazendas urbanas?

Fazendas urbanas são espaços concebidos e otimizados para a produção de frutas, hortaliças e vegetais diversos em meio a grandes cidades. As produções são verticalizadas e podem ser instaladas nas coberturas dos prédios ou em estufas agrícolas anexas às edificações.

Há empreendimentos que investem na criação de peixes ou pequenos animais, como galinhas e coelhos, em paralelo ao cultivo de vegetais. Independentemente do sistema produtivo em atividade, a premissa das fazendas urbanas é a aplicação da tecnologia para evitar desperdícios e maximizar o uso dos recursos naturais, reutilizando-os.

Dessa forma, essas iniciativas geram um impacto consideravelmente menor ao meio ambiente, além de proporcionar o acesso de produtos orgânicos à população, contribuindo para uma melhor qualidade de vida das pessoas. Como se não bastasse, as fazendas urbanas são mais eficientes do ponto de vista econômico, reduzindo os custos totais de produção. 

Como funcionam as fazendas urbanas?

As fazendas urbanas se diferem bastante do cultivo tradicional de alimentos, principalmente em relação ao espaço que ocupam. Embora seja possível trabalhar com canteiros convencionais, a grande inovação desse sistema está na não utilização do solo, o que permite justamente cultivar vegetais em uma menor área.

Portanto, o sistema de irrigação se dá por meio da hidroponia, em que as raízes dos vegetais ficam submersas em uma solução nutritiva recebendo os macro e micronutrientes na medida exata. Muitas fazendas urbanas unem a criação de peixes (aquacultura) a esse sistema, o que resulta na chamada aquaponia — uma das formas inteligentes e eficientes de usos da água.

Nela, a água dos tanques em que vivem os peixes é utilizada para nutrir as hortaliças que, por sua vez, filtram a água que retorna aos tanques. Uma vez que a água dos viveiros é altamente fértil e serve como um excelente adubo orgânico, minimiza-se a necessidade de aplicar fertilizantes químicos nas culturas.

Depois de ser filtrada pelas plantas, a água volta para os tanques de criação, fechando o ciclo sustentável. Em muitos empreendimentos há, também, a coleta da água da chuva para sustentar os cultivares.

Nas fazendas urbanas que funcionam dentro de prédios e, portanto, longe da incidência de raios solares, a luz artificial oriunda de lâmpadas LED é emitida em comprimentos de onda que simulam a luz natural e aceleram a fotossíntese das plantas. Por ser um espaço fechado, todas as condições são controladas (umidade, luz, temperatura) e conferem um ambiente propício para os cultivos se desenvolverem plenamente.

Além disso, esse sistema coberto e a ausência do solo afastam a ocorrência de pragas diversas, o que elimina a necessidade de aplicação de agrotóxicos. Tanto em hortas hidropônicas quanto em fazendas urbanas, a proteção aos cultivos se dá pelo controle biológico de pragas (caso elas apareçam).

Como elas contribuem para a sustentabilidade?

Chegando até aqui, você já deve imaginar os inúmeros benefícios que as fazendas urbanas proporcionam para a população e para o meio ambiente, não é mesmo? Ainda assim, veja de que forma essas inovações contribuem para o desenvolvimento de sociedades mais sustentáveis:

  • aumento da produtividade — por se tratar de cultivos em ambientes controlados, livres de intempéries e da dependência de substratos, é possível produzir mais em uma área muito menor;
  • dispensa do uso de agrotóxicos — os ambientes fechados e controlados reduzem a ocorrência de pragas e doenças nas plantas e no solo, o que dispensa o uso de agrotóxicos;
  • reduz o custo de produção e o desperdício dos recursos naturais — a captação da água da chuva e a sua reutilização no sistema demonstram o uso racional dos recursos;
  • melhora o manejo de resíduos orgânicos — a tecnologia faz com que os resíduos tenham destinos corretos ou sejam utilizados no sistema (como no caso da água dos viveiros de peixes que serve como fertilizante), diminuindo ou eliminando os poluentes da água e do solo;
  • diminui o uso de fertilizantes químicos — mesmo que não haja aquicultura associada à hidroponia nas fazendas, a solução nutritiva das plantas é elaborada com precisão, o que diminui o desperdício e otimiza a aplicação de fertilizantes;
  • oferece oportunidades aos produtores — por precisarem de áreas menores para funcionar, as fazendas urbanas são opções viáveis para pequenos e médios produtores também;
  • favorece segurança aos produtores — a dispensa dos agrotóxicos aumenta a segurança alimentar para os consumidores, mas, principalmente para os produtores, que são os mais expostos aos defensivos agrícolas;
  • confere menor custo com logística e reduz o uso de combustíveis — por serem empreendimentos localizados dentro de centros urbanos, gasta-se menos com transporte;
  • auxilia na redução da poluição — distâncias menores percorridas, menos emissão de gases poluentes na atmosfera;
  • propicia alimentos de maior qualidade — desenvolvendo-se plenamente em ambientes controlados, os cultivares são 100% orgânicos e entregues mais frescos para os consumidores.

Como você pôde notar, as fazendas urbanas são uma das inovações agrícolas que respeitam o meio ambiente e auxiliam na preservação dos biomas e da sua biodiversidade. No próximo tópico, veja como o sistema tem crescido no país. 

Qual a realidade das fazendas urbanas no Brasil?

Uma das maiores limitações para o avanço das fazendas urbanas no Brasil é a falta de linhas de financiamento e incentivos governamentais voltados para a agroecologia. Contudo, o número de iniciativas privadas e startups se dedicando ao cultivo protegido tem aumentado no país, provando que o sistema tem excelente aceitação no mercado.

Entre as empresas que têm se destacado por aqui, podemos citar a Mighty Greens, a Pink Farms e a BeGreen. Além de produzirem os cultivos, também oferecem seus serviços de gerenciamento a empresas de outros setores (como shoppings e fábricas) que desejam incorporar o conceito à sua cultura organizacional.

Como já foi mais do que comprovado que as fazendas urbanas são uma excelente opção para suprir a demanda alimentar em cidades e países populosos, tudo indica que esse sistema veio para ficar. Com a Revolução Verde vivenciada após a Segunda Guerra, podemos dizer que estamos presenciando a era da Revolução Sustentável

Além da alimentação de qualidade, existem muitos outros fatores necessários para estabelecer e manter o bem-estar na população. Saiba, agora, qual a importância do saneamento básico nas cidades!