Que a falta de saneamento básico traz diversos problemas para a sociedade já não é uma novidade para a grande maioria das pessoas. Mas você já parou para pensar em como essa realidade afeta a saúde da mulher? Sim, há diferenças na forma como os fatores impactam a realidade das pessoas do gênero feminino, em relação aos indivíduos do gênero masculino.

Por causa desses impactos na saúde, a carência de saneamento afeta diretamente a vida das mulheres em questões tão simples como a forma com que elas organizam o seu tempo entre as atividades. Já pensou sobre isso?

Pensando na importância desse tema e como ele afeta profundamente a nossa sociedade, desenvolvemos este post para falar sobre os impactos da ausência do saneamento na vida da mulher e os reflexos dessa relação. Quer saber mais? Então continue a leitura nos tópicos a seguir!

Dificuldades e impactos da falta de saneamento na saúde da mulher

Um recente estudo revelou que 27 milhões de mulheres brasileiras não têm acesso adequado ao saneamento básico. Um número bem alto e assustador, não é? Na prática, essa estatística representa uma entre quatro pessoas do gênero feminino no Brasil. Estamos diante de uma realidade preocupante, concorda?

Tal déficit é ainda maior entre as mulheres negras ou indígenas, conforme relata a pesquisa. O estudo também mostra as áreas mais afetadas por essa realidade, que são as regiões Norte e Nordeste, respectivamente com 39,3% e 20% da população feminina afetada pela falta de saneamento. No entanto, apesar dos números alarmantes nessas regiões, o problema atinge mulheres do Brasil inteiro, nas áreas urbanas e rurais, nas capitais e no interior.

Esse cenário tem relação direta com a saúde da mulher, o que resulta em desafios nas áreas sociais e econômicas. Veja, a seguir, alguns exemplos.

Aumento da disseminação de doenças e afastamento das atividades

A falta de saneamento básico contribui para o desenvolvimento de doenças gastrointestinais. Em função disso, muitas vezes as pessoas precisam se afastar das suas atividades para tratar essas patologias. Em muitos casos, ainda é necessário recorrer à internação hospitalar.

Com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde, só em 2013, foram registrados 7,9 milhões de casos de afastamento de mulheres de suas atividades rotineiras por vômito ou diarreia naquele ano. Desse total, 45% dos casos foram considerados graves o suficiente para deixar a paciente acamada e completamente impossibilitada de exercer suas atividades cotidianas.

Além do impactos nos gastos com saúde pública, a ocorrência dessas doenças afetou não só a produtividade das mulheres no trabalho como também diminuiu o potencial de desempenho delas nos estudos. Como se não bastasse, as horas de descanso, lazer e desenvolvimento de atividades pessoais das mulheres também foram afetadas de forma intensa. Isso se reflete diretamente no bem-estar da população feminina.

Vale observar que, de acordo com o estudo, em quase todas as faixas etárias o índice de afastamentos por diarreia ou vômito é maior na população feminina do que na masculina.

Afastamento para cuidar de familiares

Ainda falando sobre a saúde, é importante salientar que muitas mulheres são as responsáveis pelos cuidados de outros familiares que adoecem, como idosos e filhos. A divisão desigual dos trabalhos domésticos e cuidados com o lar e com as pessoas que vivem nele representam para as mulheres mais de 70% de todo o tempo dedicado a essa atividade dentro de casa.

Assim, quando alguém na família adoece, quem falta ao trabalho ou aos estudos para prestar os devidos cuidados e acompanhar à consultas médicas, internações, etc. costuma ser a mulher. Com isso, do mesmo modo como ocorre quando elas mesmas adoecem, as mulheres acabam perdendo renda nas atividades econômicas. Já no caso das mais jovens, elas acabam acumulando um atraso escolar maior do que pessoas que vivem em condições de saneamento adequadas.

Diminuição na renda

A pesquisa anteriormente citada também revela que o acesso total ao saneamento básico faz com que mulheres tenham uma elevação média de 1,5% em suas rendas. Por ano, esse acréscimo resultaria em R$12 bilhões injetados na economia do país anualmente.

O aumento da renda tem relação direta com o impacto do saneamento na saúde da mulher. Isso porque, tendo acesso aos serviços, há a diminuição do número de afastamentos por motivo de doenças gastrointestinais.

Considerando que as mulheres mais afetadas são as das camadas mais pobres da população, isso significa que muitas vezes a renda é proveniente de trabalhos autônomos, como diarista e comércio informal. Ou seja, um dia sem trabalhar impacta diretamente na renda recebida por essa mulher e sua família no final do mês, diferentemente daqueles que têm carteira assinada.

Os dados ainda indicam que os ganhos de produtividade que resultariam da universalização dos serviços de saneamento e do aumento de renda a ela associado permitiriam que mais de 635 mil mulheres saíssem da pobreza. Dessas mulheres que deixariam a condição de pobreza, 3 em cada 4 seriam negras e 6 em cada 10 pertencem às gerações futuras do país, ou seja, têm menos de 19 anos de idade.

Atraso escolar

Outra conclusão a que a pesquisa chegou tem relação estreita com a educação das mulheres. O acesso a esses serviços é um fator determinante no desempenho escolar das estudantes e interfere, de forma negativa, nas chances dessas meninas chegarem ao ensino superior e, consequentemente, ingressarem no mercado de trabalho, já que apresentarão uma escolaridade menor.

Como escolaridade também afeta positivamente produtividade e renda das trabalhadoras, uma escolaridade menor significa perda de produtividade e remuneração. Os números apresentados são impactantes dada a importância da autonomia financeira para a igualdade de gênero e para o empoderamento da mulher, previstos no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 da Agenda 2030 da ONU.

Dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) corroboram essa afirmação. Os resultados de 2016 mostram que as mulheres que moram em casas sem banheiro ou sem máquina de lavar tiveram notas menores do que as que vivem em ambientes que contam com uma infraestrutura adequada de saneamento básico.

De acordo com o levantamento, a falta de banheiro em casa fez com que a média da nota do Enem diminuísse 46 pontos em comparação aos estudantes brasileiros que têm acesso a boas condições de saneamento básico.

Sem sobra de dúvida, a falta de saneamento básico é um fator decisivo para a manutenção da saúde, da qualidade de vida e do bem-estar da mulher brasileira. Prova disso são os dados citados, que mostram como essa realidade tem cobrado um preço alto no Brasil, em especial das mulheres.

Como vimos, o déficit de saneamento básico atinge as mulheres desde a primeira infância até a velhice e é uma variável determinante na saúde, na educação e na renda da população feminina. Assim, tem efeitos negativos na mobilidade social e condena milhares de mulheres a permanecer em situação de pobreza.

Somente com a expansão e a universalização dos serviços de saneamento teremos alguma chance de diminuir esse abismo de desigualdade e modificar a realidade da mulher brasileira. A destinação adequada do esgoto e a o abastecimento com água tratada têm o poder de prevenir diversas doenças. Saiba mais sobre isso em nosso post que cita 8 doenças que podem ser causadas pela falta de saneamento básico.