Já ouviu falar em recarga de mananciais? Ainda que a água do planeta seja um recurso renovável, ela existe em quantidade limitada. E para piorar, tanto na superfície quanto nos subterrâneos, a poluição e a sobre-exploração têm minado esse tesouro fundamental para a sobrevivência de todas as espécies.

Desse modo, a recarga artificial de mananciais vem como uma solução para reverter esse quadro e garantir um fornecimento de água mais sustentável para todos. Continue lendo e saiba mais sobre como funciona esse método!

Afinal, o que é um manancial?

Mananciais são fontes de águas alojadas no subterrâneo ou na superfície, em forma de rios, lagos, lençóis freáticos e represas, por exemplo. É deles que vem a água utilizada para o abastecimento público da população. Por esse motivo, é muito importante que esses recursos recebam cuidados muito especiais, previstos em legislação.

Alguns desses cuidados envolvem a prevenção contra a poluição das águas, um dos grandes desafios do Brasil, principalmente nas grandes cidades, onde a zona urbana cresceu no entorno desses mananciais e, não em poucos casos, deposita lixo e esgoto neles.

Além dos riscos relativos à ação do homem, também é preciso considerar a crise hídrica causada por fatores climáticos, como a estiagem. Por exemplo, entre 2014 e 2015, a Região Sudeste sofreu um complicado período sem chuvas, esgotando as reservas de mananciais, o que levou a população e o poder público a tomar ações de racionamento no consumo de água.

Conheça melhor dois grandes mananciais brasileiros que abastecem grandes metrópoles do país e entenda os desafios que enfrentam.

Rio Guandu — Rio de Janeiro, RJ

O Rio Guandu tem um grande valor hídrico, pois abastece 80% da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, também conhecida como Grande Rio. As suas águas são bombeadas para a estação de tratamento ETA Guandu, localizada no município de Nova Iguaçu, considerada a maior do mundo, com uma vazão de 47 m³ por segundo.

A maior parte das águas do Rio Guandu vem do Rio Paraíba do Sul, que apresenta altos níveis de poluição em virtude do lançamento de esgoto em seu leito.

Por sua vez, as águas recebidas pelo Rio Paraíba do Sul resultaram de um trabalho de transposição, necessário não só para aumentar em seis vezes a sua vazão original, mas também para ajudar a diluir a sujeira depositada.

Águas subterrâneas do Recife, PE

A capital pernambucana não tem condições de abastecer os seus mais de 1,5 milhão de habitantes por meio dos seus rios. Por isso, a solução foi buscar mananciais subterrâneos. Infelizmente, uma parte significativa dessa reserva está comprometida tanto pela poluição que se infiltra no solo quanto pela exploração desenfreada, que tem reduzido os níveis dos reservatórios, deixando a água muito salgada.

Além de conter a poluição e investir em obras de saneamento básico, a recarga de mananciais é uma das soluções para restaurar o potencial hídrico dessas reservas. Entenda melhor como funciona esse processo, seja por meios artificiais, seja de modo natural.

O que é recarga de mananciais?

A recarga de mananciais refere-se à reposição das águas dos rios e dos aquíferos subterrâneos. Em condições normais, esse processo ocorre naturalmente por meio das chuvas que se infiltram nos solos permeáveis e abastecem o lençol freático e as nascentes dos rios.

No entanto, a recarga de aquíferos pode ser realizada artificialmente, processo regulamentado por lei específica — Resolução nº 153 de 17/12/2013, do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).

Embora a recarga desses depósitos geralmente ocorra naturalmente, em regiões áridas os procedimentos artificiais se mostram uma solução para recuperar os níveis d’água.

Apesar da grande importância desses recursos hídricos subterrâneos, diversas atividades humanas têm causado impactos negativos, como o crescimento desordenado das cidades. Essa ocupação territorial gera a impermeabilização de locais naturais de recarga, fazendo com que as águas corram superficialmente, causando enchentes e inundações nas cidades.

Essa ampliação desordenada das cidades, aliada à superexploração dos lençóis subterrâneos, tem acarretado no esgotamento desses recursos. Em virtude disso, a capacidade de recarga natural desses depósitos foi drasticamente reduzida nas últimas décadas, impelindo soluções artificiais para a recuperação dos mananciais.

Como a recarga artificial de um aquífero funciona?

A recarga de aquíferos pode ocorrer de modo intencional ou acidental. Diz-se que a recarga é acidental quando a água infiltra no solo por meio de fossas sépticas não impermeabilizadas, aterros sanitários, áreas agrícolas que foram irrigadas de modo excessivo, reservatórios para abastecimento de água com vazamentos, escoamento superficial de locais urbanos, esgoto, entre outros.

Assim, a água se infiltra no solo, mas, em alguns desses casos, a falta de controle pode gerar a contaminações das águas subterrâneas. Já a recarga de mananciais feita artificialmente elimina esse risco. 

Ela pode ser feita por meio de poços de injeção ou de maneira indireta em bacias ou caixas de infiltração. Dessa forma, aumenta o volume das águas subterrâneas, aprimorando a sua qualidade e fornecendo novas condições de equilíbrio. A água utilizada para a recarga pode ser de rios, lagos, saída das estações de tratamento de esgoto, da chuva, de escoamento superficial ou mesmo resultante do processo de dessalinização.

As bacias de infiltração são escavadas no solo permeável para onde o escoamento da água será redirecionado. É necessário que haja uma área saturada de solo, sem camadas impermeáveis.

Já os poços de infiltração são escavados no solo, revestidos de manilhas perfuradas ou tijolos organizados com espaçamentos preenchidos com cascalho ou areia para facilitar a infiltração. Nesse caso, a água é bombeada para dentro do poço.

Eles são utilizados quando na região não são encontradas áreas permeáveis ou quando os aquíferos são muito profundos. Assim, prefere-se utilizar as águas provenientes das chuvas coletadas em telhados de prédios, casas etc., em virtude da sua qualidade superior em relação ao escoamento, uma vez que os padrões de limpeza são mais exigentes.

Quais são as vantagens e os desafios da recarga de mananciais?

A recarga artificial dos aquíferos traz muitas vantagens, como:

  • é uma maneira mais arrojada e ágil de promover a recarga de um lençol freático;
  • minimiza os impactos da estiagem enquanto cria uma reserva natural para o futuro;
  • elimina a vazão de dezenas de metros cúbicos por segundo de água passem direto pelas bacias hidrográficas chegando ao oceano;
  • elimina a perda de água por evaporação;
  • elimina a proliferação de algas e reduz a poluição que impacta as águas superficiais.

Um dos maiores problemas da recarga, porém, é que a água introduzida não pode ser completamente retirada. Também é preciso se certificar de que o procedimento não causará alteração da qualidade da água do lençol freático, bem como manter um registro do comportamento do sistema, que inclua a quantidade de água utilizada por tipo de recarga e a quantidade total infiltrada, por exemplo. Além disso, a qualidade da água de recarga e da água do aquífero recarregado deve ser constantemente monitorada.

A recarga de mananciais por via artificial vem como uma das soluções mais relevantes para garantir o abastecimento de água para a população, principalmente nas grandes cidades e nas regiões de escassez. Ou seja, é um dos caminhos que pode reverter o problema da superexploração desses recursos hídricos.

Quer saber mais sobre o tratamento e o gerenciamento da água potável? Confira o nosso artigo sobre as maiores curiosidades sobre a água que você consome!