A água é essencial para a manutenção da vida em todo o planeta. Em um indivíduo adulto, por exemplo, a água compõe cerca de 60% do seu organismo. Por isso, esse recurso é fundamental para a hidratação dos humanos e também de animais e vegetais.

No entanto, apesar de 71% da superfície terrestre ser coberta por água, apenas 2,5% dessa quantidade está disponível em água doce. Além disso, os mecanismos para a renovação desse recurso são poucos e lentos, o que torna a água potável um recurso finito. Para evitar o seu esgotamento, é preciso recorrer a alternativas.

Pensando nisso, vamos discutir o que é dessalinização e como ela pode ser uma alternativa de abastecimento de água no Brasil e no mundo. Se você quer saber mais sobre o assunto, continue lendo e aprenda sobre o tema.

O que é o processo de dessalinização da água do mar?

A água salgada, ou dos mares, representa cerca de 97% da água de todo o planeta. No entanto, ela é imprópria para o consumo. A principal razão é porque ela contém altos níveis de cloreto de sódio, o mesmo sal usado no preparo dos alimentos.

Quando há excesso dessa substância no organismo, as células começam a perder água em um processo chamado osmose, causando desidratação. Esse quadro é bastante perigoso para a saúde, visto que a água é essencial em diversas reações químicas e funções do organismo. Além disso, a água do mar é rica em alguns sais que podem irritar a mucosa do trato gastrointestinal.

No entanto, especialistas acreditam que esse recurso com grande disponibilidade está sendo desperdiçado. Já existem formas de retirar o excesso de cloreto de sódio e outros sais da água do mar, assim como de remover micro-organismos e outros componentes prejudiciais à saúde, tornando-a ideal para o consumo. Para isso a água precisa passar por algumas etapas.

Quais são as etapas desse processo?

Há basicamente três partes sensíveis no processo de dessalinização: a captação, o tratamento propriamente dito e a disposição do rejeito. Agora, vamos conhecer como cada uma delas funciona, suas peculiaridades e dificuldades. Entenda melhor cada etapa abaixo.

Captação

A primeira fase do processo de dessalinização é a captação da água do mar. Essa fase ocorre a partir da construção de estações de bombeamento perto das praias. Também é possível fazer a captação por meio de canais, poços ou galerias de infiltração.

Tratamento

Dentro da etapa do tratamento, é possível utilizar vários processos, como filtração, flotação, ultrafiltração, evaporação/destilação, osmose reversa e remineralização, assim como combinar as técnicas para alcançar mais eficiência no resultado.

Os processos mais conhecidos são os que ocorrem pelo uso de membranas de ultrafiltração na osmose reversa, assim como a evaporação/destilação.

Ultrafiltração e osmose reversa

Nesse caso, a passagem da água do mar ocorre por meio de membranas com permeabilidade seletiva. Durante a dessalinização pela técnica de osmose reversa, a passagem da água pela membrana ocorre porque a pressão externa é maior do que a pressão osmótica existente, o que faz o líquido se deslocar do lado com maior concentração de sais para aquele com menos concentração desses elementos. O objetivo é reverter o processo natural de osmose.

A membrana utilizada promove uma ultrafiltração, visto que é feita de material semipermeável e sintético, com espessura inferior a 1 mícron. Quando a água se desloca por ela, as impurezas ficam retidas e, assim, ocorre a separação dos sais, minerais e outros contaminantes que tornam a água imprópria para o consumo.

Evaporação

A destilação térmica, ou evaporação, imita o ciclo natural da chuva para promover a dessalinização. Por meio de energia, que pode ser fóssil ou solar, a água do mar é aquecida e, assim, passa do estado líquido para o gasoso.

As partículas sólidas ficarão retidas no reservatório, enquanto a água é evaporada. Já sem os sais minerais, será captada por um sistema que a resfriará e fará com que ela volte ao estado líquido.

Disposição do rejeito

A água residual da dessalinização tem alta concentração de sais, minerais e outros compostos, inclusive resíduos tóxicos para a vida marinha. Além disso, em alguns casos, como no processo de evaporação, a água resultante do tratamento está em temperatura diferente da encontrada no mar, o que pode causar impactos negativos.

Assim, é preciso distribuir o rejeito sem impactar a vida marinha e o solo, visto que muitas vezes esse rejeito é devolvido a eles e aos cursos d’água. Para tanto, existem várias técnicas, como bacias ou lagoas de evaporação, concentração e cristalização de salmoura, redução do volume do rejeito por plantas aquáticas em tanques e bacias de percolação e irrigação de plantas halófitas, ou seja, plantas que acumulam grandes quantidades de sais em seu interior.

Existe viabilidade para aplicar a dessalinização da água do mar?

A dessalinização da água do mar é muito comum em regiões desérticas, como o Oriente Médio, ou com pouca disponibilidade de água potável, como a África. Mas o uso dessa técnica não se restringe apenas a esses locais, sendo bastante utilizada ao redor do globo.

No entanto, apesar de transformar a água do mar em água potável e levá-la para onde há escassez parecer uma ideia mágica, existe um empecilho para o projeto: o custo. Mesmo que ele já esteja sendo implementado em vários lugares do mundo, ele ainda é muito alto.

Para se ter uma ideia, são necessários 8 quilowatts-hora de energia para produzir mil litros de água, quantidade ideal para o consumo diário de uma casa de três quartos no Brasil. Além disso, existem os custos com a construção das estruturas que possibilitam a captação. Apesar de caro, esse recurso é o único possível em alguns lugares, como no Oriente Médio e nas Ilhas do Caribe.

Há projetos para a redução de custos?

Como vimos, a dessalinização da água do mar é um projeto caro, mas já existem ideias para tentar baratear esse custo. Um exemplo promissor é a utilização de técnicas com membranas, mais especificamente a osmose inversa, que oferece custo de R$ 1 para dessalinizar mil litros de água salobra e de R$1,50 a R$ 2 para tornar potável a água do mar.

A ideia já é explorada em Israel e também aqui no Brasil, na ilha de Fernando de Noronha. Ela deve ser expandida em breve, já que levar água a lugares de escassez ou em desabastecimento é mais barato do que construir canais para levar esse recurso a grandes centros urbanos.

Quais países já utilizam a água dessalinizada?

Vários países adotaram a técnica da dessalinização da água do mar para aumentar a oferta de abastecimento em seus territórios, como é o caso da Espanha, dos Estados Unidos e do Japão. Vamos mostrar agora algumas experiências que deram certo na área ao redor do mundo.

Inglaterra

Como abastecer uma cidade de 9,7 milhões de habitantes, como Londres, com constantes problemas de escassez de água, como a falta de chuva em 2006? Construindo uma usina de dessalinização.

Essa foi a solução encontrada pelo governo inglês para resolver seu problema de falta de água não só pela viabilidade do projeto, mas também por ter se mostrado mais econômico do que transpor a água do norte do país para lá. Foi assim que, em 2010, a usina de dessalinização da Inglaterra foi inaugurada, ao custo de 270 milhões de libras e com capacidade para produzir 140 milhões de litros de água.

Além disso, para reduzir os gastos com energia, o governo inglês usa biodiesel, feito de óleo de cozinha, como fonte de energia do processo.

Austrália

A Austrália também sofreu com a seca por mais de uma década. Essa condição climática só foi encerrada em 2012. Para que você tenha uma ideia do problema da água naquele país, saiba que o governo criou um termo de direito de posse de água para os cidadãos, o que os permite comprar e vender a água que recebem. Isso faz com que o consumo interno seja mais dinâmico.

A outra forma de atacar o problema foi com a construção de usinas de dessalinização. A primeira foi aberta em 2006, na cidade de Perth, e produz 45 bilhões de litros por ano. Atualmente, o país tem seis usinas desse tipo para dar conta dos seus mais de 25 milhões de habitantes. Eles também investem em água de reúso para atividades secundárias e produzem 21 bilhões de litros de água nesse sistema.

Israel

Criado no deserto, Israel teve que dominar todas as tecnologias de produção e manejo de água para poder matar a sede da sua população. E conseguiu! O país tem um avançado sistema hídrico, que conta com irrigação por gotejamento na agricultura (o que economiza água), técnicas de reúso — com até 80% do esgoto tratado do país — e a maior usina de dessalinização do mundo, que produz 40% da água consumida no local. 

A população brasileira vai beber água dessalinizada?

Se depender do avanço da técnica e dos custos cada vez menores, a população vai, sim, beber água dessalinizada. Aliás, essa ideia já vem sendo aplicada no Brasil desde 2004. Como resultado, temos 575 sistemas de dessalinização em funcionamento:

  • 234 no Ceará;
  • 44 na Paraíba;
  • 29 em Sergipe;
  • 10 no Piauí;
  • 68 no Rio Grande do Norte;
  • 45 em Alagoas;
  • 145 na Bahia.

Estados como Pernambuco e Minas Gerais já estão na fase inicial de diagnóstico para implantar o sistema, de modo que a água dessalinizada já pode ser acessada em, pelo menos, nove estados da federação.

Um ponto negativo é que as usinas de dessalinização da água do mar demandam um consumo elevado de energia elétrica. No entanto, como no Brasil há grande incidência solar, é possível utilizar essa energia para movimentar as usinas. Outro tópico que merece atenção é a necessidade de se ter um plano de manejo adequado para os resíduos envolvidos no processo.

A resposta para a pergunta “o que é dessalinização? ” é uma só: é o presente e o futuro do abastecimento de água em todo o mundo. As usinas de dessalinização não param de se multiplicar e são uma solução para o problema da escassez hídrica.

Como visto, a dessalinização da água do mar é um processo que veio para ficar, e deve ser entendido como uma das alternativas necessárias para o gerenciamento dos recursos hídricos, continuidade do desenvolvimento industrial e do crescimento populacional.

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