A diversidade natural do Brasil é imensa. Nosso país tem dimensões continentais com mais de 8.500 km de costa. Esse vasto litoral é o destino favorito de milhões de pessoas. Assim, uma das atividades econômicas de maior impacto nessas regiões é o turismo, que gera empregos para milhares de brasileiros e renda para os municípios.
Apesar desse cenário tão promissor, um problema de infraestrutura nas cidades tem acarretado sérias consequências à população e ao meio ambiente: o despejo de esgoto no mar.
Neste artigo, vamos discutir sobre o estado das praias brasileiras, as consequências do lançamento de dejetos não tratados nos oceanos, bem como as soluções mais eficientes que têm sido estudadas e implementadas. Continue a leitura e saiba mais!
Qual é a quantidade estimada de esgoto jogado nos mares por ano?
Segundo dados do Instituto Trata Brasil, todos os dias lançamos, em rios, córregos, solo e mares, um volume de esgoto não tratado equivalente a 5.622 piscinas olímpicas. A falta de infraestrutura de saneamento no país é, sem dúvida, uma das principais vilãs na poluição das águas brasileiras. Apenas para ilustrar, podemos citar o caso do estado de Alagoas. Segundo o relatório de 2019 do Sistema Nacional de Informação Sanitária, 83,1% da população não conta com serviços de coleta e tratamento de esgoto. Todo esse dejeto é lançado in natura no mar, causando estragos incalculáveis.
Infelizmente, a situação de Alagoas não é uma exceção. As águas dos oceanos acabam sendo poluídas não só pelo esgoto despejado diretamente nos mares, mas também por aqueles que chegam através dos rios que deságuam no litoral. Assim, a poluição pode chegar de áreas mais distantes e terem os reflexos percebidos também na costa.
Segundo dados do Índice de Qualidade da Água (IQA), que analisa a qualidade da águas dos rios e divulgados pelo Observatório do Clima, nenhum dos 17 estados em que a Mata Atlântica está presente apresenta uma água bruta de ótima qualidade:
- 74,5% estão em condições de qualidade regular:
- 17,6% em condição ruim;
- 6,5% em situação classificada como boa;
- 1,4% está em péssimas condições.
Desse modo, o resultado é o grande número de praias impróprias para o banho, contaminadas por esgotos, produtos químicos e também por petróleo. Mas, conforme apontaremos a seguir, as consequências vão muito além do impacto no lazer dos veranistas.
Quais são os maiores problemas gerados pelo esgoto que vai para o oceano?
1. Compromete a biodiversidade marinha
O lixo e o esgoto lançados no mar causam grande prejuízo à biodiversidade marinha. Por exemplo, objetos e pedaços de plástico, além de outros materiais flutuantes, podem ser engolidos por animais ou ficarem presos a seus corpos.
Além disso, a decomposição dos compostos orgânicos do esgoto suspensos na água gera nutrientes que promovem a proliferação exagerada de algas superficiais. Esse processo é conhecido como eutrofização. O resultado é o surgimento de uma camada de algas que impede a penetração da luz do sol na água e reduzem o nível de oxigênio do ambiente aquático. Essas condições provocam uma mudança no habitat, criando uma situação propícia para o desenvolvimento de microrganismos que sobrevivem com pouco oxigênio e a morte de peixes e de outras criaturas marinhas sensíveis.
2. Faz mal à saúde dos banhistas
O consumo e o contato com a água contaminada estão relacionados a muitas doenças e problemas de saúde. Em Alagoas, por exemplo, foram registradas 5.971 incidências de esquistossomose apenas em 2018. Essa verminose é transmitida por meio de ovos do parasita presentes em fezes de pessoas infectadas. Ela consta na lista de Doenças Relacionadas ao Saneamento Inadequado (DRSAI), juntamente à diarreia, à amebíase, à cólera, à gastroenterite, entre outras enfermidades de veiculação hídrica.
3. Mau cheiro na orla
Apesar de diluídos, os dejetos lançados no mar provocam outras reações químicas e biológicas que potencializam problemas de odores muito fortes e desagradáveis em toda a praia. Essas condições têm reflexo na qualidade de vida de moradores, além de afastar banhistas e reduzir atividades econômicas relativas ao turismo. E isso nos leva ao próximo impacto negativo da falta de saneamento.
4. Prejudica o turismo
O litoral brasileiro é mundialmente conhecido e é um dos grandes responsáveis por aquecer a atividade turística no país. Infelizmente, o despejo de esgoto não tratado no mar acaba causando danos econômicos às cidades e perda de renda dos trabalhadores do setor.
Segundo cálculos divulgados pelo Instituto Trata Brasil, por exemplo, no Ceará, 36 mil postos de trabalho no setor turístico poderiam ser criados se a infraestrutura de saneamento básico fosse aprimorada. No Rio Grande do Norte, 18.352 empregos poderiam ser gerados, além de uma arrecadação adicional de R$ 199,35 bilhões.
Quais medidas estão sendo tomadas e como essa situação pode ser revertida?
É fundamental que todos os municípios que ainda despejam esgoto sem tratamento em seus córregos e praias definam, em caráter de urgência, projetos de saneamento. Abaixo, vamos falar de algumas soluções que podem reverter esse quadro.
Monitoramento da qualidade da água
Tecnologias de saneamento avançadas são capazes de monitorar a qualidade das águas com base em diferentes parâmetros. Esse acompanhamento é importante não só para entender o estado das praias a fim de tomar ações corretivas, mas também para que a população reivindique soluções por parte do poder público.
Pesquisas em relação ao despejo de efluentes em emissários
Os emissários submarinos são grandes tubulações que despejam o esgoto tratado no oceano. O nível de tratamento pelos quais os efluentes passam depende bastante. No emissário de Santos, por exemplo, em atividade desde 1978, o esgoto passa por um tratamento preliminar que remove partículas mais grossas da água e o lança no mar.
Como o esgoto é 99% composto por água, normalmente o processo de tratamento prévio elimina o 1% composto por outras substâncias, geralmente lixo. Já os materiais orgânicos e patogênicos não representam ameaça para o meio ambiente, mas podem impactar a qualidade de águas que seriam próprias para banho.
Desse modo, é importante reforçar que as estações de tratamento de esgoto são fundamentais para o tratamento preliminar antes do direcionamento ao emissário, especialmente em localidades densamente povoadas. Por meio delas, os esgotos são tratados em níveis adequados conforme cada região e resíduos e até cargas orgânicas e patogênicas podem ser eliminados no processo. Além disso, estudos das condições de cada local definem também a distância ideal para o despejo do esgoto no mar, sem que ele impacte as praias e os banhistas.
Quer entender melhor sobre como o despejo de esgoto sem tratamento afeta a sociedade? Então, leia também o post “Esgoto nas praias: um problema que não atinge somente os banhistas” e saiba mais!
BRK
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