Até 2050, a expectativa é que a população humana cresça 35%, o que fará com que a produção agrícola tenha que dobrar para dar conta de alimentar todas essas pessoas, de acordo com dados da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Contudo, os modelos tradicionais de agricultura podem não conseguir esse objetivo, além de gerarem impactos ambientais ainda maiores.

Por isso que a busca por alternativas para a produção de alimentos é uma constante. Nesse contexto é que o conceito de permacultura urbana se insere. Para saber mais sobre o assunto, como surgiu e como aplicá-lo, acompanhe este texto. Boa leitura!

O que é permacultura urbana?

Quando pensamos na produção atual da maior parte dos alimentos que consumimos, a primeira ideia que vem à mente é a de grandes áreas sendo cultivadas com uma única cultura. Essa técnica recebe o nome de monocultura e é a base da agricultura industrial na maioria dos países nas últimas décadas.

Entretanto, em que pese o aumento de produtividade, esse modelo não é sustentável, principalmente no longo prazo. Ele gera grandes impactos ao meio ambiente e à biodiversidade. Isso se dá principalmente pela degradação causada no solo por essa modalidade de cultivo e pelo uso excessivo de fertilizantes e agrotóxicos, que podem contaminar a terra e as águas subterrâneas.

Para se contrapor à monocultura e oferecer alternativas para a produção sustentável de alimentos é que surge a permacultura urbana. Essa palavra é uma união dos termos em inglês para agricultura permanente (permanent agriculture).

A permacultura urbana envolve uma série de princípios que serão abordados ao longo deste texto. Porém, o principal é o aproveitamento de recursos naturais em harmonia com a natureza para a produção de sistemas agrícolas permanentes integrados aos ecossistemas locais e ao meio urbano.

Esse conceito não tem como foco exclusivo a agricultura. Técnicas de permacultura podem ser aplicadas também em jardins comunitários, plantações coletivas, entre outros sistemas sustentáveis. De todo modo, vamos focar nossa atenção na agricultura neste texto, tudo bem?

Como ela surgiu?

O termo permacultura surgiu nos anos 70. Ele foi criado pelos cientistas australianos Bill Mollison e David Holmgren, enquanto eles pesquisavam alternativas sustentáveis para a produção de alimentos.

No Brasil, a permacultura começou a ser mencionada em meados dos anos 80, principalmente em discussões sobre agricultura sustentável. Nos anos 90, surgiram os primeiros institutos dedicados a essa prática, localizados nos estados da Bahia, Amazonas e Rio Grande do Sul.

O principal objetivo dos cientistas australianos era conceber sistemas capazes de se manterem com recursos próprios e que adotassem uma visão holística (ou seja, do meio ambiente como um tudo). A permacultura urbana não é nada mais do que a aplicação desse conceito no espaço das cidades, que podem se aproveitar muito dele para um desenvolvimento urbano sustentável.

Uma forma de entender melhor a permacultura é compreender cada um dos pilares nos quais ela se baseia. Eles funcionam menos como regras e mais como uma ética que deve acompanhar a adoção das técnicas. Acompanhe abaixo quais são eles:

  • cuidar da terra, para que os sistemas possam se manter saudáveis;
  • cuidar das pessoas, para que elas possam ter os recursos necessários para se manterem vivas;
  • repartição justa, para que toda a produção seja dividida de forma igualitária e não haja desperdício nem consumo excessivo

Entre outros princípios básicos que permeiam a permacultura urbana, podemos citar: trabalhar sempre ao lado da natureza e nunca contra ela, valorizar a diversidade e encontrar soluções locais para os problemas que surgirem.

A permacultura urbana deve ser sempre ser vista como algo interdisciplinar. Para que ela funcione, é necessário envolver conceitos de várias áreas, indo da ecologia até a arquitetura, sempre realçando essa necessária visão do todo.

Como aplicar esse conceito nas nossas vidas?

Agora que você sabe o que é o conceito de permacultura urbana e qual a sua importância, veja algumas formas de colocar esses princípios em prática.

Saiba aproveitar os espaços e cultive hortas

Sacadas, praças, jardins e até mesmo terrenos abandonados podem se transformar em espaços para o desenvolvimento de hortas, comunitárias ou não.

Para isso, mobilize interessados, consulte a disponibilidade do espaço escolhido e veja se é necessária a autorização das autoridades locais para começar o plantio ali. O ideal é que a área tenha boa incidência de luz solar e seja plana. Se a terra já tiver boa qualidade, melhor ainda.

Escolha as espécies de vegetais mais adaptadas à sua região. Isso dispensa o uso de produtos químicos em larga escala. Adubos vegetais, feitos a partir de restos de plantas, ajudam a garantir a fertilidade do solo.

Por fim, é importante que os meios de separar a produção sejam determinados, para que ninguém fique sem o que precisa. O combate ao desperdício também é sempre importante.

Tenha uma composteira

Contar com uma composteira é uma excelente saída para transformar as sobras de casa em adubo para a sua horta e reduzir a produção de lixo. Elas são sistemas feitos de caixas sobrepostas que armazenam o material orgânico.

O processo de decomposição provocado por organismos vivos transforma os resíduos orgânicos em adubo. Composteiras domésticas fazem isso de forma limpa, sem emitir qualquer odor. O trabalho de manutenção também é relativamente simples diante dos benefícios oferecidos.

Dê preferências a produtos familiares

Não quer cultivar sua própria horta? Então, na hora de consumir, prefira os produtos produzidos por agricultura familiar. O impacto ambiental provocado por essa forma de cultivo é substancialmente menor. Além disso, você contribui com as famílias que trabalham nessa produção para que elas mantenham sua fonte de renda.

Desse modo, você fortalece a economia local e contribui para uma rede de consumo mais sustentável. Afinal, quanto menos etapas um produto passa no seu processo produção, menor é a emissão de poluição gerada na cadeia produtiva.

Embora muitas pessoas considerem o conceito de permacultura urbana complexo, várias atitudes simples contribuem para a sua implementação. Além disso, trabalhá-lo no dia a dia reforça a educação ambiental, essencial para repensarmos como nosso consumo afeta o meio ambiente.

Gostou e quer aprender mais sobre o assunto? Então leia o nosso artigo sobre o movimento Cittaslow e como ele torna a vida nas cidades mais sustentável.