O Brasil abriga 12% de toda a água doce do mundo. A riqueza hídrica do nosso país é invejável. Dessa forma, seria natural concluir que não teríamos problemas de abastecimento, mas não é isso o que ocorre. Segundo os Índices do Sistema de Informações de Saneamento (SNIS 2019), ainda não conseguimos levar água potável para toda a população. O melhor resultado é no Sudeste, com 91,1% de atendimento com rede de água. Já na região Norte temos a pior cobertura, com 57,5%.
Quais são as barreiras que o avanço da distribuição de água tratada enfrenta no Brasil? Que soluções viáveis existem? Selecionamos informações importantes sobre o assunto. Confira!
Como funciona a distribuição de água no Brasil?
Em primeiro lugar, entenda melhor como funciona o sistema de distribuição no país, desde a captação nos mananciais até chegar à sua casa. Saiba também qual é a regulamentação envolvida para a prestação desse serviço.
Captação da água
O primeiro passo é a retirada do recurso hídrico dos mananciais, que reservam água no subterrâneo (lençóis freáticos e poços profundos) e na superfície (rios, barragens e lagos). A ideia é captar dos mananciais e devolver à natureza após o cuidado necessário.
Nessa etapa inicial, as águas passam por grades que retêm elementos maiores, como galhos e troncos. Esse processo é chamado de gradeamento. O próximo passo, ainda na captação, é a desarenação, no qual a areia é removida por meio de sedimentação. Esse processo de pré-tratamento prepara a água para ser bombeada até a estação de tratamento.
Tratamento da água
Nessa etapa, elementos sólidos menores são retirados da água. Além disso, acontece a eliminação de vírus, bactérias e outros micro-organismos causadores de doenças. Para isso, são aplicados alguns procedimentos, conforme as características da água captada. Abaixo, algumas etapas comuns em estações de tratamento de água:
- coagulação: a água recebe uma substância coagulante para juntar as partículas;
- floculação: as partículas unidas formam flocos, tornando-se mais pesadas;
- decantação: as partículas que formaram flocos descem e vão se acumulando no fundo, separando-se da água;
- filtração: a água da superfície, separada dos flocos, vai sendo coletada por meio de canaletas e direcionada para filtros formados de cascalho, areia e carvão mineral, que retêm as partículas que não decantaram. A partir daí, ela segue para tanques de depuração;
- desinfecção: nos tanques de depuração, adiciona-se cloro para eliminar os micro-organismos que causam doenças de veiculação hídrica;
- correção de pH: cal virgem é adicionado à água para corrigir a faixa de pH. O ideal é que chegue próximo ao ponto neutro (pH 7,0);
- fluoretação: aplica-se flúor para a prevenir cáries.
Distribuição
Ao longo das etapas de tratamento, a água passa por análises laboratoriais para testar os padrões de qualidade. Se tudo estiver certo, ela segue para o armazenamento em reservatórios, de onde será distribuída à população por meio de adutoras — redes de distribuição que levam a água até as casas.
Quais são os problemas enfrentados na distribuição de água?
Algumas situações interferem na distribuição de água nas cidades. Confira os principais problemas enfrentados a seguir.
Perdas de água
Segundo os dados de 2019 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), o sistema de distribuição perde cerca de 39% da água potável antes de chegar às torneiras da população. Isso significa que, a cada 1.000 litros de água tratada, 390 litros são desperdiçados.
As causas das perdas de água são as mais diversas:
- erros de medição;
- ligações clandestinas e não cadastradas;
- vazamentos na rede.
Para reduzir essas perdas, as empresas de saneamento têm investido em tecnologias — como sensores capazes de detectar vazamentos, por exemplo — que proporcionam mais facilidade de gerenciamento de toda a rede de maneira remota, antecipando possíveis problemas, entre outros recursos.
Construções irregulares
Segundo o Instituto Trata Brasil, 83,62% da população brasileira têm acesso à água tratada. Parece muito, mas isso significa que quase 35 milhões de pessoas ainda não são atendidas no país.
Um dos desafios para a universalização do acesso à água tratada está relacionado às áreas com construções irregulares onde, pela legislação brasileira, os serviços de abastecimento não conseguem chegar. São moradias que estão, em muitos casos, sobre áreas de proteção ambiental, sem condições adequadas para serem ocupadas por construções e receberem as obras necessárias para atendimento com os serviços de saneamento.
Por serem locais de difícil acesso, propensos a deslizamentos de terra e enchentes, existe tanto uma dificuldade técnica quanto um alto custo de investimento para o serviço de abastecimento legal.
Má distribuição dos recursos
É verdade que o Brasil é um dos países com maior disponibilidade hídrica do mundo, mas a distribuição da água potável é muito irregular. A região Norte, por exemplo, abriga a maior parte dos recursos hídricos do país, mas é o local com menor densidade demográfica do Brasil.
Além disso, um problema que agrava a situação do abastecimento em um país com dimensões continentais como o nosso são as diversas situações climáticas. Elas são responsáveis pela existência de inúmeros rios intermitentes ou temporários, especialmente na região Nordeste. Esses rios são aqueles que apresentam água apenas em períodos de chuvas. Quando chega a época da estiagem ou a seca, eles desaparecem temporariamente.
Apesar de tantos desafios, existem maneiras de reverter esse quadro. Entenda as principais soluções para melhorar a distribuição de água a seguir.
Como melhorar a distribuição de água?
Para lidar com perdas, com a estiagem e com outros desafios pertinentes à distribuição de água no Brasil, são diversos os caminhos possíveis — muitos deles já em pleno funcionamento. Veja só!
Captação de água da chuva
Desde 2003, o antigo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome — atualmente Ministério da Cidadania —, do Governo Federal, tem financiado a construção de cisternas em regiões rurais e precárias, que sofrem com extensos períodos de estiagem ou com a falta regular de água — especialmente no semiárido do país.
Nesse modelo, a água é captada da chuva e direcionada, por meio de calhas nos telhados das casas, para cisternas com capacidade média de 16 mil litros. Lá ela fica armazenada para ser bombeada para o consumo, atendendo necessidades básicas como beber, cozinhar e preparar alimentos. Nesse modelo, a água passa por filtragem e o reservatório fica coberto, o que impede a contaminação causada pelos mais diversos fatores.
Vale destacar que, sem um sistema adequado como o citado acima, a água da chuva não deve ser utilizada para consumo humano.
Água de reúso
A utilização de água de reúso tem sido outra alternativa para os problemas de distribuição de água. Nesse caso, o esgoto gerado em casas e indústrias passa por um tratamento avançado, deixando a água com qualidade para ser empregada em diversas atividades, como lavagens de garagens e pátios, irrigação e resfriamento de peças, entre outros.
Em alguns países, a água de reúso é utilizada no abastecimento da população. Nesse caso, a água passa por um tratamento específico e avançado e pode ser utilizada para o consumo humano.
Investimento na ampliação dos serviços de abastecimento de água
A cada ano, as concessionárias de saneamento básico, como a BRK Ambiental, têm potencializado seus investimentos — não somente na ampliação da rede para garantir a universalização do acesso, mas em tecnologias que permitem elevar a qualidade dos serviços prestados e reduzir perdas.
A distribuição de água potável e o saneamento básico são aspectos fundamentais de uma sociedade com melhor qualidade de vida, mais saudável e que tem sua dignidade respeitada. Já avançamos bastante, mas ainda temos muito trabalho a fazer!
Será que conseguiremos superar os desafios e alcançar a universalização na distribuição de água tratada? Saiba o que esperar do futuro da água e como contribuir para sua preservação.
BRK
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Sua análise sobre a distribuição de água no Brasil é incrivelmente esclarecedora e destaca o contraste entre a abundância de recursos hídricos do país e os desafios enfrentados para garantir o acesso universal à água potável. É particularmente interessante notar como, no Rio de Janeiro, o crescimento urbano acelerado levou a desafios únicos na entrega de água. A solução inovadora de recorrer a caminhões-pipa, como os fornecidos pela Água Doce, especialmente nos bairros da Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá, ilustra uma abordagem prática para enfrentar essas dificuldades, garantindo que os moradores tenham acesso contínuo à água. Este exemplo destaca a importância de soluções adaptativas e a colaboração entre o setor público e privado para superar as barreiras à distribuição de água tratada. Seu artigo reforça a necessidade de investimento contínuo em infraestrutura e tecnologia para avançarmos em direção à universalização do acesso à água potável no Brasil. Obrigado por compartilhar essas insights valiosas!