O saneamento básico e o meio ambiente têm forte ligação e se relacionam em vários aspectos. Os serviços englobados no saneamento, como abastecimento de água tratada, coleta e tratamento de esgoto, drenagem de água pluviais e recolhimento e destinação adequada do lixo, são essenciais para a prevenção de doenças e a preservação de rios, lagos, fauna e flora no mundo todo.
Nesse sentido, a educação ambiental tem um papel muito importante, porque forma cidadãos mais participativos em assuntos relacionados às questões de responsabilidade socioambiental, como a preservação dos mananciais, da mata ciliar, o descarte correto do lixo e também quanto à prestação dos serviços públicos básicos, como acesso à água tratada e coleta e tratamento de esgoto.
Apesar dessa importância, a educação ambiental ainda não é um tópico abordado com profundidade na formação cultural e acadêmica do brasileiro, mas é possível mudarmos essa realidade. Quer saber mais sobre esse assunto? Continue lendo o texto!
A educação ambiental e os seus conceitos
As discussões sobre educação ambiental são recentes, com início em 1972 na Conferência de Estocolmo. Três anos mais tarde, na Conferência de Belgrado, promovida pela Organização das Nações Unidas para a Educação (UNESCO) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), foi elaborada a carta de Belgrado.
Nesse documento, estão contidas as preocupações sobre as mudanças ambientais que o mundo vem passando desde então e como a educação ambiental poderia ajudar no desenvolvimento de novas ferramentas e políticas para promover a preservação do meio ambiente.
Por ser uma questão tão relevante, o tema continuou a ser desenvolvido na Conferência Intergovernamental de Tbilisi, em 1977, evento em que a questão foi abordada com mais profundidade. No encontro, foi elaborado outro documento contendo recomendações mundiais sobre educação ambiental — o que foi considerado um grande marco —, bem como foram determinados os objetivos e as definições sobre o tema.
Assim, podemos definir educação ambiental como um conjunto de práticas que orientam a resolução de problemas concretos no meio ambiente por meio do trabalho interdisciplinar e da participação ativa e responsável de cada pessoa na sociedade.
Essas práticas têm como objetivo que os cidadãos compreendam a complexidade do meio ambiente, tanto o natural quanto o modificado pelo homem, que resulta da associação entre aspectos biológicos, sociais, econômicos, físicos e culturais.
Além disso, a educação ambiental tem como objetivo promover conhecimento, valores, comportamentos e habilidades práticas, de modo que o meio ambiente seja preservado e os problemas, solucionados.
As discussões sobre o tema no Brasil também tiveram início na década de 70, com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA). Em 1988, o capítulo VI do Art. 225 da Constituição Federal determinou a obrigatoriedade da educação ambiental em todos os níveis de ensino.
A importância de pensar na educação ambiental
O atual cenário de degradação da natureza e de incertezas quanto aos desafios globais relacionados ao meio ambiente requer uma leitura nova e crítica da sociedade. Para a bióloga e professora Paula Leme Warkentin, é preciso buscar uma maior compreensão das questões socioambientais que afetam nosso cotidiano como indivíduos e como sociedade.
Isso é fundamental, porque o impacto do homem nos ecossistemas gera problemas, como desmatamento, poluição, escassez de recursos, perda de habitat para os animais, extinção de espécies e geração de resíduos poluidores e contaminantes. Essas questões são a origem de diversas adversidades que enfrentamos, como doenças, falta de água e escassez de alimentos, por exemplo. Ou seja, para que tenhamos uma vida com qualidade, precisamos que o meio ambiente esteja equilibrado.
No entanto, a vida moderna nos leva, justamente, ao oposto dessa visão, distanciando a humanidade da sua verdadeira essência, fortalecendo hábitos de consumo nada sustentáveis. Por isso, é necessário desconstruir a ideia de natureza como recurso inesgotável a serviço da humanidade.
Ensinando sobre educação ambiental
Como vimos acima, a educação ambiental é imprescindível para que a sociedade conviva em uma relação de equilíbrio com a natureza, e precisa estar disponível para todas as faixas etárias.
Ela pode contribuir para solucionarmos diversas questões, como fortalecer a compreensão do papel da água no desenvolvimento sustentável, apresentar boas práticas de reciclagem, incentivar a produção de energia limpa, etc. Essas são questões atuais que contribuem para a solução de problemas globais e que, portanto, são responsabilidades de todos.
Nesse sentido, a integralidade e a transversalidade do tema não devem ser ignoradas. Não será a tecnologia, ou a ciência, ou a educação que resolverão sozinhas os problemas do mundo. Serão todos esses fatores atuando em conjunto. De acordo com a professora, precisamos compreender a interdependência e a integração das coisas, afinal, somos todos por todos e é preciso parar de pensar individualmente. Necessitamos de governos, instituições, pessoas engajadas nessa transformação.
Abaixo, apresentamos como a educação ambiental pode ser abordada em diferentes fases da vida:
Crianças
Na educação infantil, conceitos e valores importantes para a convivência em sociedade são aprendidos. Dentro do ambiente escolar, a criança vai iniciar o seu processo de interação social, inserindo-se em uma nova realidade além daquela vivenciada com os seus familiares.
Por isso, durante a infância, é importante trabalhar o tema de forma lúdica e inseri-lo em atividades interdisciplinares. Dessa forma, as crianças conseguem relacionar o cuidado com o meio ambiente com os diferentes temas a que está tendo acesso e, assim, ter uma compreensão mais ampla e dinâmica sobre o mundo e seus desafios.
Ter uma visão interdisciplinar da educação ambiental contribui para que as crianças passem a ser agentes ativos e se tornem cidadãos que entendem e valorizam a natureza, conscientes sobre as suas responsabilidades e o seu papel na sociedade para a preservação dos recursos naturais.
Algumas das ações que podem ser feitas com crianças são: plantio e cuidado de mudas e hortas, utilização de jogos educativos, ensinar e praticar a reciclagem e o consumo consciente e, principalmente, como adultos, darmos exemplo de práticas sustentáveis e de uma relação saudável entre o homem e o meio ambiente.
Jovens e adultos
Geralmente, os jovens e adultos vivem uma realidade diferente das crianças. Muitos deles estão no ensino médio ou já iniciaram a faculdade e começaram a trabalhar, enfrentando novos desafios. A educação ambiental, nesse caso, pode ser abordada de forma a conectar o assunto aos problemas do cotidiano. É importante que a linguagem utilizada para esse público seja atrativa, de modo que haja conexão dessas pessoas com o tema.
Além disso, é interessante que problemas de ordem global sejam abordados, como mudanças climáticas, importância de se preservar os recursos naturais, uso racional de plástico, consumo consciente e todas as questões econômicas e sociais envolvidas na preservação ambiental. A complexidade dos temas deve acompanhar o nível de maturidade do grupo.
Um exemplo de como uma ação coletiva e colaborativa é possível de ser desenvolvida com esse grupo é a iniciativa da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, que criou o ‘sisteminha’. Com um balde, um cano de PVC, uma mangueira e uma garrafa pet, foi possível proporcionar às famílias de baixa renda de Urbanos Santos, no Maranhão, a criação artesanal de peixes, hortaliças e frutas. Para isso, foi necessário conhecimento, vontade, parceria e financiamento.
Já no mercado de trabalho, especificamente, a sustentabilidade costuma ser levada a sério por muitas das grandes corporações. Assim, para estar alinhado com os valores das empresas, o profissional precisa, no mínimo, ter conhecimento sobre esses assuntos. Outro ponto é que, com o tempo, são essas pessoas poderão assumir cargos de liderança nas empresas e tomar decisões que impactam positivamente o meio ambiente.
Educação ambiental na terceira idade
O Brasil segue uma tendência global de envelhecimento da população. De acordo com dados do IBGE, a população brasileira com 65 anos de idade ou mais cresceu 26% entre 2012 e 2018, representando 10,5% do total dos residentes do país, o correspondente a 21,872 milhões de pessoas.
Essas pessoas tiveram, no seu desenvolvimento, vivências completamente diferentes das crianças e jovens de hoje. Por isso, é importante criar estratégias para sensibilizá-los, utilizando a linguagem adequada e mostrando como a educação ambiental pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida desse grupo.
Algumas atitudes que devem ser estimuladas são: utilizar menos os veículos, fazer reciclagem, reduzir a produção de lixo, fazer economia de água etc. Além da contribuição ao meio ambiente, é possível ter ganhos financeiros com atividades sustentáveis.
Os idosos também representam a nossa memória: eles viveram muitas transformações ambientais e podem contribuir para a solução de problemas, propondo estratégias e novos caminhos para uma sociedade mais sustentável.
Criando práticas de consciência ambiental
Como falamos, a educação ambiental tem como objetivo conscientizar a população sobre o impacto das suas ações nos diferentes ecossistemas. Neste tópico, abordamos algumas boas práticas nesse sentido. Confira abaixo!
Descarte de lixo
Um dos principais problemas globais é a produção de lixo pela população. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), estimam que são produzidas 78,6 milhões de toneladas de lixo por ano no Brasil.
Atualmente, vivemos uma era de materiais descartáveis. Para se ter uma ideia, estima-se que o Brasil consuma 720 milhões de copos desse tipo por dia. O número é alarmante e nos faz pensar: o que é feito com todo o plástico produzido no país?
Esses recipientes são feitos com materiais derivados do petróleo e levam muitos anos para serem degradados na natureza. Por isso, é urgente que a sociedade pense sobre o descarte do lixo. O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) define que o saneamento básico engloba ações de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos — serviços que devem ser garantidos pelo poder público, mas que a população pode contribuir bastante.
Porém, o cenário brasileiro ainda está longe do ideal. Por exemplo, a Abrelpe estima que ainda existam 3 mil lixões espalhados pelo país. Essa é uma questão preocupante, dadas as consequências ambientais da prática.
Para contribuir, o governo pode atuar como incentivador das cooperativas de reciclagem. Elas contam com o trabalho dos catadores que andam pelas ruas das cidades separando e coletando materiais recicláveis que são vendidos para empresas. Dessa forma, eles diminuem a quantidade de lixo nos aterros sanitários e agregam valor ao material.
Já a população pode auxiliar no manejo do lixo das seguintes formas:
- acondicionando o lixo de modo apropriado para o descarte;
- não jogando lixo nos córregos, rios e lagos;
- não jogando lixo na rua e em terrenos baldios;
- separando os materiais recicláveis do lixo orgânico;
- não jogando óleo de cozinha na pia, armazenando-o e levando-o a pontos de coleta adequados;
- separando objetos que contêm material tóxico, como baterias, pilhas e eletrônicos e direcionando-os aos pontos de coleta adequados.
Economia de recursos naturais
Os recursos naturais podem ser definidos como tudo aquilo que é extraído da natureza e utilizado pelo homem para o seu desenvolvimento econômico, por exemplo, na produção de matéria-prima ou na geração de energia.
Alguns desses recursos são capazes de se recompor em um tempo menor, como as florestas, a água, o solo, a fauna e a flora. Outros precisam de eras geológicas para serem formados, como é o caso dos minérios, do petróleo, do carvão mineral, entre outros.
Nos dois casos, os elementos correm o risco de esgotarem se não forem utilizados de maneira consciente. Dependendo da administração do recurso, pode haver um prolongamento do tempo de disponibilidade desses bens naturais. Isso vai depender, principalmente, de dois fatores: tecnologia e reciclagem.
Um exemplo disso é a reciclagem do alumínio, uma substância extraída do minério bauxita e utilizado em inúmeras aplicações, como latas de bebida, panelas, esquadraria, portas etc. Ele pode ser reciclado infinitas vezes, e esse processo economiza 95% da energia que seria necessária para extraí-lo da bauxita.
Segundo a Associação Brasileira de Alumínio (ABAL) e a Associação Brasileira dos Fabricantes de Lata de Alta Reciclabilidade (Abralatas), o Brasil é o país que mais recicla alumínio no mundo, chegando a quase 100% das latas de alumínio em 2016. E isso tem consequências econômicas e ambientais para o país.
No entanto, ainda que alguns recursos levem menos tempo para se recuperarem, eles também são passíveis de esgotamento. Um exemplo disso é a recente crise hídrica vivida pelo Brasil, sentida principalmente nos estados do Sudeste, que impactou fortemente a economia do país.
O ciclo da água é simples, se comparado com outros elementos. No entanto, o consumo e a falta de chuvas fizeram com que a velocidade de uso fosse maior do que a de reposição do recurso, provocando o desabastecimento da população.
Estímulo ao consumo consciente
Todo consumo tem um impacto, seja positivo, seja negativo, nas relações sociais, na economia e na natureza. Sabendo disso, podemos escolher uma maneira de consumir de forma consciente e minimizar os malefícios.
Estima-se que o ser humano já utiliza 30% mais recursos naturais do que a Terra é capaz de renovar. Se a humanidade mantiver esse padrão, em pouco tempo não teremos mais como atender a nossa necessidade de água, energia e alimentos.
Essa situação ameaça a vida de todos os seres vivos, e a melhor forma de mudar isso é modificando o nosso estilo de vida. Nesse sentido, o consumo consciente deve ser praticado diariamente, garantindo a sustentabilidade dos recursos naturais e dos processos industriais.
Há várias maneiras de ser um consumidor consciente. Por exemplo, ao comprar um produto, você pode optar por aquele que utiliza materiais recicláveis ou que gera menos resíduos. Além disso, essa questão passa pelas relações justas de trabalho.
Portanto, é necessário conhecer a empresa que comercializa os produtos que você compra, observando se ela dá condições dignas de trabalho e qual é o impacto do seu processo produtivo na natureza. Esse pequeno ato pode promover grandes transformações, visto que, quanto mais pessoas cobrarem práticas sustentáveis das empresas, mais elas serão estimuladas a agir dessa forma.
Um dos princípios que é aplicado ao consumo consciente é o dos 3 Rs, que se baseia em reduzir, reutilizar e reciclar. Reduzir o consumo e dar prioridade àqueles produtos que têm menor geração de resíduo e maior durabilidade.
Reutilizar diz respeito ao processo de utilizar o produto mais de uma vez, ou seja, consumir menos itens descartáveis ou utilizá-los mais de uma vez, postergando o descarte. O último princípio é o da reciclagem, que já foi abordado anteriormente e se diferencia da reutilização, pois na reciclagem o produto é reprocessado e utilizado para fabricação de um outro artigo, com caraterísticas diferentes do original.
Os desafios da educação ambiental
Como visto, a educação ambiental é um tema que vem sendo debatido desde a década de 70, e a sua importância já é reconhecida nas instituições de ensino. No entanto, alguns desafios são enfrentadas na aplicação prática desse tema.
Um deles é o engajamento das escolas. Segundo a professora, para a aprendizagem ser efetiva, a instituição de ensino precisa ter reuniões de análise crítica do processo, bem fundamentadas, que possibilitem que as ações desenvolvidas em sala de aula sejam avaliadas, contextualizadas, integradas – e não soltas, fragmentadas.
Outro ponto a ser considerado é o envolvimento e engajamento da gestão escolar. “Qualquer esforço pode ser em vão quando se tem uma gestão descomprometida com esses princípios – e, pior ainda, quando a gestão barra os projetos”, afirma Paula.
A valorização do docente, que é o principal impulsionador da educação ambiental, também é importante. Além disso, é preciso que os educadores incorporem a temática de forma natural ao cotidiano do curso, compreendendo sua transversalidade. “Não precisamos (nem podemos) separar a questão ambiental da temática (ou da ‘matéria’ lecionada), seja ela qual for”, explica a professora.
Nesse sentido, é importante o professor compreender a questão ambiental dentro de sua área e fazer essa conexão naturalmente. “Por exemplo, se sou uma professora de moda, além das informações inerentes à área, devo citar a questão dos tecidos sustentáveis, do trabalho escravo, da geração de resíduo, etc. Para isso, é preciso que o docente tenha essa visão integral. Por isso eu sempre insisto na educação integrada e não fragmentada”, conta.
Uma outra questão envolve a relação entre a escola e a comunidade em que ela está inserida — é necessário que haja envolvimento da população nas atividades promovidas. Assim, o conhecimento ultrapassa os muros das instituições de ensino e todos, desde crianças até idosos, podem vivenciar na prática as consequências das mudanças de hábito da comunidade.
Nós precisamos do ambiente, e não ele de nós. Assim, a consciência ambiental é primordial para compreendermos que dividimos tempo e espaço com outras criaturas e interagimos com fatores diversos. Sem equilíbrio, todo esse cenário está ameaçado e o ser humano está incluído nele. “Em suma, a sensibilização ambiental é primordial para que possamos preservar a vida de todas as criaturas – inclusive a humana”, destaca a professora.
Como vimos, a educação ambiental é um assunto complexo, que envolve vários setores da sociedade, sendo essencial para a preservação do meio ambiente e a construção de um mundo melhor. Assim, é fundamental que esteja disponível para todos, independentemente da idade ou da condição social.
Ela está relacionada à preservação da natureza e todas as suas espécies e seus recursos, à diminuição de doenças, ao desenvolvimento urbano e social e, principalmente, ao saneamento básico, um serviço que ainda não recebe a atenção necessária por parte dos governantes e da população e está longe de ser universalizado no Brasil.
Ficou curioso sobre a situação atual desse serviço no país? Então, continue a sua visita e conheça mais sobre o panorama do saneamento básico no Brasil!
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Este texto foi produzido com base na entrevista realizada com Paula Leme Warkentin, Coordenadora do Sistema de Gestão Ambiental e docente do Senac São Paulo.
BRK
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4 Comments
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Excelente artigo, realmente sua análise foi assertiva. Continue escrevendo parabéns!
muito legal
Conhecimento, informação sustentabilidade e educação.
Parabéns!💚
Parte de cada indivíduo buscar conhecimento e virar a chave para as mudanças.Elas começam em nós mesmos, no trabalho quando fazemos algo sustentável, em casa quando economizamos e nas relações interpessoais quando incentivamos ao consumo consciente.
O nosso organismo está reaproveitando o que já descartamos. A natureza vivencia uma constante batalha e já se mostra exausta.