Em virtude dos grandes impactos ambientais sofridos pelo planeta, a reciclagem tornou-se um tema cada vez mais importante de ser abordado. Trata-se do gerenciamento de resíduos, que transforma artigos descartados em insumos e garante diversas vantagens ambientais. Por isso, falar de reciclagem na educação infantil é fundamental.

No contexto escolar, a introdução do tema desde os primeiros anos é uma forma de sensibilizar as crianças sobre o cuidado com o meio ambiente. Por meio de ações de sensibilização, é possível atrair o olhar das crianças para a questão e que, a partir disso, elas construam conhecimento e desenvolvam consciência ambiental.

Atividades lúdicas e divertidas são ideais para despertar o interesse da criança sobre a importância do desenvolvimento sustentável e da preocupação com os recursos do planeta. Uma ótima opção são os trabalhos com reciclagem, que possibilitam a descoberta, por meio de suas potencialidades criadoras, e o reaproveitamento do resíduo como matéria-prima. O mais legal é que esse tipo de ação educacional proporciona também efeitos positivos para o meio ambiente e, consequentemente, para todos os seres vivos.

Quer saber como inserir a reciclagem na educação infantil? Acompanhe nosso artigo e saiba as melhores maneiras de abordar o assunto desde a infância. Continue a leitura e confira!

Por que ensinar reciclagem para crianças?

Ter em mente que a reciclagem é um fator que contribui para a redução do impacto ambiental promovido pelo consumo em excesso é o primeiro passo para entender a importância de introduzir o ensinamento desde de cedo.

Em primeiro lugar, é necessário compreender a diferença entre reutilizar e reciclar, já que nas escolas a coleta seletiva (separação de materiais para encaminhá-los ao processo de reciclagem) e a reutilização de materiais são comuns.

A reciclagem consiste em mudar a estrutura dos materiais, reprocessá-los. Por exemplo, ao reprocessar o plástico, passa-se a ter as fibras de poliéster como matéria prima. Já a reutilização está relacionada ao reaproveitamento, seja para o mesmo fim, seja para fins diferentes.

É possível perceber que, em algumas escolas, ao tratarem as questões dos resíduos, trabalham com a confecção de brinquedos a partir de embalagens usadas. É válido, mas é preciso garantir a contextualização da ação e ter cuidado com a falsa impressão de que “as embalagens são boas”. Justamente por conta do impacto ambiental que geram é que devem ser evitadas ou reutilizadas.

Mas, afinal, por que ensinar reciclagem para as crianças? Os trabalhos com reciclagem na educação infantil demonstram, na prática, a relevância da contribuição de cada um na conservação do meio ambiente. Por meio dessas ações, as crianças percebem seu papel como agentes e transformadores do meio e reconhecem os efeitos das suas atitudes no mundo em que vivem.

Além de desenvolver o lado criativo, esse tipo de atividade contribui para a percepção de valores importantes sobre a preservação ambiental e são fundamentais na formação de cidadãos ecologicamente conscientes e responsáveis.

Como inserir o assunto da reciclagem na educação infantil?

Por se tratar de um tema transversal, a possibilidade de trabalhar com ele de forma natural e integrada permite que o assunto seja trabalhado o quanto antes. Quando tratado com naturalidade, integrado aos demais temas cotidianos da criança, passa a ter mais sentido, mais força.

Viver em um espaço ambientalmente equilibrado é questão de sobrevivência: é esse meio que propicia ar, água, abrigo e alimento a todas as pessoas e demais seres vivos. Dividimos o planeta com outros seres que também dependem e precisam desse ambiente, assim como o ambiente deles. Fato é que nós, humanos, precisamos desse ambiente muito mais do que ele de nós. Por isso é necessário ensinar e estimular o respeito e o cuidado. Cuidar do meio é cuidar da vida. Esse é um processo de interdependência que deve ser resguardado.

Quando o assunto é reciclagem, as questões em torno dela também devem ser abordadas. Trata-se de um caminho que precisa ser percorrido e costurado com intencionalidade educacional para que não fique desconexo e fragmentado: uma ação solta e sem sentido. Essa trajetória deve ser iniciada desde cedo, de forma lúdica e responsável.

A principal dica para inserir o assunto é considerar o conhecimento prévio do aluno e, a partir daí, estabelecer um diálogo sobre o tema, seguindo com práticas que façam conexões com o mundo real.

É fundamental considerar, na hora de preparar essas atividades, a realidade e a identidade da escola e da comunidade em que a criança está inserida. Com base nesses pontos, conhecimento prévio, realidade e identidade, é possível criar muitas possibilidades de abordagem.

O assunto não deve ser tratado como pertencente a determinadas “matérias”. É claro que pode estar mais presente em algumas áreas, mas estamos falando de um tema transversal, que perpassa por diversos âmbitos. Envolver professores de todas as áreas seria o ideal! Se a escola assume esse compromisso, todos os docentes podem, dentro das suas óticas, falar do meio ambiente.

Quais atividades podem ser desenvolvidas com as crianças?

Agora que você já entendeu melhor sobre a importância do trabalho de reciclagem para a educação infantil, é hora de conferir algumas dicas para inserir no cotidiano das crianças.

O ideal é criar um cronograma de atividades com objetivos, indicadores e responsáveis. A partir daí, iniciar um processo, sobretudo educacional, para sensibilizar e engajar o maior número de alunos, pais e funcionários. Mas não esqueça! Essas atividades devem ser pensadas de acordo com a identidade escolar, o Projeto Político Pedagógico, e o perfil das turmas.

Já que os professores são os que mais conhecem a turma, é preciso dar a eles autonomia para que trabalhem os assuntos com seus alunos, por meio de abordagens mais apropriadas. Quando os alunos criam com a mediação dos professores, o resultado costuma ser surpreendente.

Existe um universo de possibilidades de atuação — o ideal é cada escola aproveitar seu espaço e suas especificidades para criar seu próprio trajeto. Além disso, os pais também podem inserir as atividades fora do ambiente escolar.

Confira alguns exemplos a seguir:

  • biomapa;
  • utilização de ferramentas digitais, como quiz, criação de blogs, sites, canais sobre o assunto
  • visitas às centrais de reciclagem;
  • exposição de materiais que foram descartados como lixo;
  • utilização de resíduos como matéria-prima;
  • cine-debates;
  • palestras;
  • oficinas;
  • criação de jogos e confecção de brinquedos.

Além disso, alguns documentários e filmes podem ser utilizados para ampliar a discussão do tema, de acordo com as idades, como:

Outra oportunidade, no caso de alunos de ensino médio, seria lançar a problemática e o desafio de propor soluções e intervenções para o problema, como a criação de ferramentas que ajudam e motivam, por exemplo o Design Thinking.

Quais são os benefícios da prática?

Trabalhar com materiais recicláveis pode ser uma boa oportunidade de estimular a criatividade. No caso da confecção de brinquedos, em diversas instituições o professor já determina aquilo que deve ser feito.

No entanto, pode ser mais prazeroso e educativo deixar que os próprios alunos criem e imaginem seus objetos, promovendo, assim, diversidade de resultados, comunicação entre as crianças, segurança, autonomia e criatividade. Desse trabalho saem criações incríveis. Mas, lembre-se: ele deve sempre estar de acordo com a idade dos alunos.

Além dos benefícios cognitivos e comportamentais, a escola pode economizar na compra de matéria-prima para fins similares e ainda garantir benefícios financeiros, caso a instituição opte pela venda desses materiais.

Pensando além dos portões da escola, as questões sociais também se destacam, já que muitas famílias se sustentam com o trabalho realizado nas cooperativas de reciclagem ou informalmente na coleta e venda desses materiais. Sem contar que os conhecimentos construídos pelas crianças são repassados aos familiares, fazendo com que todos repensem e revejam os seus hábitos.

Como as atividades devem ser feitas?

Todo projeto é válido, desde que contextualizado. Realizar atividades desconexas, soltas e fragmentadas é assumir a possibilidade de fracasso. É importante que, em primeiro lugar, a escola assuma esse compromisso. Que todos os profissionais, incluindo a alta administração, estejam engajados e envolvidos.

Temos aí duas vertentes:

  • atividades concretas: implantação da coleta seletiva, com coletores e parcerias para retirada dos resíduos;
  • atividades educacionais: sensibilizações e treinamentos para que todos entendam as razões do projeto. Afinal, não adianta dar uma palestra sobre o assunto achando que a coleta seletiva será um sucesso, é preciso ter ações contínuas.

Uma boa forma de operacionalizar e manter o projeto é por meio de um ou mais comitês com funcionários, alunos e pais, e de novo: envolvimento e apoio da alta administração escolar.

Sem dúvida, a geração de resíduos é responsável por grande parte dos impactos ambientais sofridos pelo planeta, e a reciclagem ajuda muito em sua diminuição. No entanto, ela também gasta energia, água e emite gases de efeito estufa. Por isso, mais importante que reciclar é estimular o consumo consciente das crianças.

Um relatório divulgado pela WWF informa que o Brasil é o 4º país do mundo que mais gera lixo plástico. Nesse sentido, desenvolver a autonomia, o senso crítico e o pensamento sistêmico deveria ser prioridade em todas as instituições educacionais.

Uma oportunidade excelente de tratar essa e diversas outras questões pertinentes é concentrar os esforços nas metas globais para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) — um plano de ação criado pela ONU que busca promover uma vida digna a todos.

Utilizar as ferramentas do projeto e assumir a responsabilidade pelas metas globais são ótimas alternativas para alcançar sucesso na educação infantil.

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Este conteúdo foi produzido com base na entrevista realizada com Paula Leme Warkentin, Professora e Consultora bióloga e especialista em Educação Ambiental.