Apesar de avanços significativos nos últimos anos, em muitas regiões do Brasil, o acesso à água de qualidade continua sendo um grande desafio. Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2018) divulgados pelo Instituto Trata Brasil, 83,62% dos brasileiros não contam com o sistema de abastecimento de água tratada.
Em um país com cerca de 209 milhões de habitantes, esse percentual representa um grupo de mais de 34 milhões de pessoas. Nesse cenário, quais são os possíveis aprimoramentos do processo de abastecimento de água? Continue a leitura e entenda as principais iniciativas necessárias!
O que é um sistema de abastecimento de água?
O sistema de abastecimento é uma infraestrutura projetada para captar, tratar e conduzir a água por meio de tubulações para consumo doméstico, serviços públicos e diferentes atividades econômicas, como lojas comerciais, agronegócio e indústrias.
Para que isso seja possível, a companhia de saneamento precisa considerar diversos fatores para projetar todos os processos, como aspectos operacionais, sanitários, financeiros, sociais e tecnológicos. Esse planejamento visa levar água para todos e, com isso, alcançar alguns objetivos, entre eles:
- prevenir doenças, especialmente as de veiculação hídrica;
- contribuir para a limpeza urbana;
- reduzir a mortalidade infantil e elevar a expectativa de vida das pessoas;
- garantir mais qualidade de vida e bem-estar à população;
- proteger os mananciais;
- assegurar o controle da qualidade da água.
Sistemas de abastecimento de água não são uma novidade. Mesmo na antiguidade, já havia projetos de abastecimento de água. No Egito, por exemplo, foram construídos mecanismo de controle do fluxo do rio Nilo para sistemas de irrigação e utilizados tubos de cobre para levar a água até o palácio do faraó. O Império Romano também foi autor de um projeto ousado, quando em 312 a.C construiu o aqueduto de Aqua Appia, que tinha cerca de 17 km de extensão.
Como esse sistema funciona?
Para garantir a qualidade da água que chega ao consumidor, o sistema de abastecimento é formado por diversas unidades:
- manancial: local de onde se retira a água que será tratada e distribuída à população. Pode ser superficial, como lagos, rios e represas, ou subterrâneo;
- sistema de captação: consiste em todo o maquinário e as instalações para retirar a água dos mananciais e direcioná-la ao tratamento;
- tratamento: ocorre em uma estação na qual a água passa por diversas etapas para que esteja em condições apropriadas de consumo. É aqui que são aplicados cloro e flúor, por exemplo;
- reservatório: onde a água tratada é armazenada para ser distribuída à população conforme a demanda. Além disso, ele garante uma pressão constante na rede;
- rede de distribuição: é formada por todo o conjunto de equipamentos e tubulações que transportam a água dos reservatórios até comércios, indústrias e residências;
- ramal domiciliar: instalação que liga a residência à rede de distribuição que passa na rua.
Como o abastecimento de água impacta a população?
Todo esse processo de abastecimento significa muito mais do que apenas garantir água potável às pessoas. O sistema impacta a população de maneiras muito além do “básico” que dá nome aos serviços de saneamento. Vamos destacar aqui os principais efeitos!
Melhorias na educação
Existem diversos estudos que atestam a relação entre o saneamento básico e a educação. Por exemplo, um levantamento feito pelo Instituto Trata Brasil revelou que um jovem residente em uma casa com serviços de saneamento básico tem 4,1 anos a mais de educação formal do que um jovem que não recebe esse atendimento.
Redução de doenças
A água está diretamente ligada à saúde. Dessa forma, a ingestão de água contaminada pode provocar uma série de doenças de veiculação hídrica, que não só retiram crianças e adolescentes das escolas e afastam profissionais de seus trabalhos, mas também podem até matar. Desse modo, garantir o abastecimento de qualidade para toda a população pode conferir dignidade e promover o desenvolvimento social.
Geração de empregos
Três quartos de toda a força de trabalho do mundo dependem da água. Esses dados da ONU divulgados em evento na sede da ANA reforçam que problemas no abastecimento de água podem restringir fortemente o crescimento econômico de uma região.
Como o sistema de abastecimento de água pode ser aprimorado?
É verdade que até aqui já evoluímos bastante e estamos caminhando rumo à universalização dos serviços de saneamento básico. Mas precisamos buscar sempre a melhoria contínua para vencer todos os desafios no processo. Veja algumas das ações mais recomendadas!
Controle da qualidade da água
A Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011, é a norma legal que determina os procedimentos de controle da qualidade da água para o consumo humano. Essa Portaria determina que devem ser feitas análises químicas, físicas e de radioatividade, além do número de amostras e a frequência dos testes.
Combate às perdas
Segundo as Nações Unidas, o Brasil perde R$ 10,5 bilhões em virtude de desperdícios em sua rede de distribuição. Por isso, é fundamental investir em práticas que reduzam esse cenário. Alguma das ações são:
- controle de pressão: a identificação de pontos com maior pressão por meio de softwares ajuda os profissionais a detectarem possíveis rupturas e vazamentos nas redes;
- setorização: a cidade pode ser dividida por setores com o apoio de equipamentos como macromedidores. Assim, é possível identificar e realizar manutenções em pontos bem específicos, com menos impactos para a população;
- caça-vazamentos: como grande parte das perdas não são visíveis, elas exigem uma análise aprimorada com o uso de equipamentos avançados de detecção, como a haste de escuta e o geofone eletrônico.
Implementação de tecnologia
A implementação de tecnologias sempre foi responsável por aprimorar processos em diferentes atividades, e isso não foi diferentes na área de saneamento. Algumas dessas ferramentas que têm trazido resultados promissores são:
- Internet das Coisas (IoT): sensores inteligentes podem ser instalados na rede para detectar a vazão dos setores conforme as diferenças de pressão;
- Telemetria: o consumo de água de cada residência ou condomínio pode ser calculado e enviado para as companhias automaticamente em tempo real, ajudando a detectar vazamentos ou consumos fora da média;
- Big Data: o grande volume de dados gerados pelos sistemas e seus equipamentos pode ser coletado, armazenado e analisado para servir de base para decisões estratégicas na distribuição de água à população de forma ainda mais inteligente.
Conscientização da população consumidora
Mesmo que a água chegue à população com toda a qualidade e que a companhia de saneamento consiga manter um volume reduzido de perdas, é necessário que, na outra ponta do processo, ou seja, no momento do consumo, as pessoas adotem práticas responsáveis quanto ao uso da água.
A responsabilidade pela preservação desse bem tão essencial para todos é compartilhada, e o papel de toda a sociedade é fundamental para que não falte água no futuro.
A água potável é um direito básico de toda a humanidade, pois é um bem essencial para a vida. Assim, cuidar da qualidade do processo de abastecimento de água, bem como fazer um bom uso dela no dia a dia são atitudes primordiais. Afinal, as melhorias no sistema e a expansão do acesso à água para todas e todos contribui para o desenvolvimento social e econômico da população.
Quer saber mais sobre o assunto? Então leia o nosso post sobre o ODS 6 e o desafio de levar água e saneamento para todos até 2030!
BRK
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