O esgoto a céu aberto é uma realidade para uma parcela considerável da população. De acordo com dados do Instituto Trata Brasil, quase 100 milhões de brasileiros não têm acesso ao serviço de coleta de esgoto e somente 49% de todo o esgoto gerado no país passa por algum tipo de tratamento.
Do ponto de vista global, a situação não é muito melhor. Um relatório feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), indica que seis em cada dez pessoas no mundo não têm acesso a saneamento seguro. Neste post, vamos apontar os prejuízos desse cenário e o que pode ser feito para revertê-lo.
Porque a rede de esgoto é tão importante para a população?
Diante dos benefícios proporcionados por esse serviço, é difícil imaginar como metade dos habitantes do Brasil ainda tem que lidar com a ausência de coleta e tratamento de esgoto.
A falta de saneamento básico faz com que essas pessoas tenham sua saúde e qualidade de vida diretamente afetadas. Além de evitar doenças e a poluição das águas, tópicos que detalharemos mais abaixo, o acesso aos serviços de esgoto traz inúmeros outros benefícios para a população atendida.
Entre uma das vantagens mais interessantes está a melhoria nos índices de educação. Pessoas com acesso ao saneamento tem, em média, dois anos a mais de formação escolar, quando comparadas a quem não mora em locais atendidos pelos serviços.
A razão para isso, entre outros aspectos, é que quem mora em locais com esgoto a céu aberto sofre mais com doenças e acaba perdendo mais dias de aula. Para crianças em situação vulnerável, esse número tende a ser ainda mais prejudicial, já que educação de qualidade costuma ser um dos principais mecanismos para a diminuição da desigualdade social no Brasil.
Quais são os principais prejuízos do esgoto a céu aberto?
Se alguns efeitos do esgoto a céu aberto só são sentidos a longo prazo, outros são imediatos, o que reforça a necessidade de solucionar esse problema o quanto antes. A seguir, detalhamos quais são os principais prejuízos sofridos por quem não tem os serviços de coleta e tratamento de esgoto à disposição .
Ameaça à saúde
São inúmeras as doenças de veiculação hídrica causadas pelo descarte incorreto do esgoto gerado nas residências. Muitos micro-organismos (protozoários, vírus, bactérias e parasitas) têm sua proliferação favorecida pela ausência de saneamento, o que acaba expondo quem mora nessas regiões a diversas enfermidades — e muitas delas podem ser fatais.
Entre as principais doenças transmitidas pela ausência de tratamento de água e esgoto estão:
- diarreias, principalmente as causadas por bactérias E.coli;
- amebíase;
- cólera;
- leptospirose;
- disenterias;
- hepatite A;
- esquistossomose;
- febre tifoide;
- ascaridíase;
- toxoplasmose.
Embora pareça um problema simples, a diarreia é a segunda principal causa de morte em crianças menores de 5 anos ao redor do mundo, como mostra a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela faz mais vítimas por dia do que a Aids, a malária e o sarampo juntos. Na maior parte dos casos, isso seria resolvido com o acesso aos serviços de saneamento básico: água tratada na torneira e coleta e tratamento do esgoto.
Além disso, o impacto da ausência de saneamento na saúde da mulher também tem efeitos devastadores e a relação entre acesso aos serviços de saneamento e o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é amplamente sustentada por estudos e pesquisas.
Desse modo, a verba aplicada em infraestrutura de saneamento deve ser sempre vista como um investimento na saúde, na qualidade de vida e no bem-estar da população. De acordo com a OMS, para cada dólar empregado em abastecimento de água e coleta e tratamento de esgoto, mais de quatro são economizados nos serviços de saúde pública, que não precisarão arcar com os custos de tratamento e internação de pessoas afetadas por doenças causadas por esse tipo de contaminação.
Poluição dos recursos hídricos
O meio ambiente, em especial, lagos, rios e mares, também sofrem diretamente com o esgoto lançado de forma incorreta. Isso inclui os seres vivos que habitam esses ecossistemas. Além de prejudicar a utilização desses recursos naturais pelos humanos, a presença de esgoto na água aumenta a sua oxigenação, o que pode causar a morte de peixes e de outras formas de vida aquáticas.
Isso sem falar no odor desagradável gerado pelo lançamento incorreto dos resíduos na natureza, algo que quem mora em grandes cidades já convive diariamente ao circular próximo aos rios que cortam a área urbana.
Quais os desafios existentes para mudar esse cenário?
O acesso universal à coleta e ao tratamento de esgoto não será um problema resolvido de um dia para o outro no Brasil. A solução para o problema do esgoto a céu aberto é complexa e vários desafios se apresentam no cenário. Entre os principais, estão a grande desigualdade social do país e a falta de investimentos consistentes no setor. Atualmente, há uma enorme diferença entre o investimento necessário para a universalização do saneamento básico e quanto se investe de fato.
O novo Marco Legal do Saneamento, sancionado em julho de 2020, tem o potencial de transformar essa realidade. Essa nova lei altera diversos aspectos que regulam os serviços no Brasil e estabelece novas metas para universalização do acesso ao saneamento. A meta para que 90% da população tenha acesso à coleta de esgoto é até 31 de dezembro de 2033.
O que você pode fazer para melhorar a situação do esgoto a céu aberto?
A solução para essa situação demanda esforços coletivos e não virá do dia para a noite. Como cidadão, procure saber qual a situação da sua região e o que está sendo feito (ou deixando de ser realizado) para melhorar as condições de acesso ao saneamento básico.
Como paliativo, até que a rede pública de esgotamento sanitário chegue em determinadas regiões, é possível investir na construção de fossas sépticas, que já são muito comuns em regiões rurais ou áreas mais afastadas. Esse tipo de instalação, geralmente feito de alvenaria, afasta os resíduos da casa e realiza um tratamento simples por meio de processos químicos e físicos, reduzindo o impacto ambiental causado pelo esgoto.
A instalação da fossa séptica deve ser planejada para que ela não contamine o solo e fontes de água. Também é preciso investir na manutenção, com a limpeza periódica do reservatório, para evitar vazamentos e mau cheiro.
Quem já conta com serviços de esgoto em casa pode ajudar tomando cuidado com o que joga encanamento abaixo, principalmente para prevenir entupimentos. Por isso, nunca faça da privada ou do ralo uma lixeira, evitando jogar nesses locais embalagens vazias, óleo de cozinha, fios de cabelo, cotonetes, preservativos, absorventes, entre outros itens.
Dentre as diversas mazelas que atingem o Brasil e o mundo, certamente o esgoto a céu aberto está entre as principais, o que só motiva a busca para encontrar soluções que resolvam o quanto antes esse grande problema para o desenvolvimento de diversas regiões.
Quer mais informações para acompanhar o desenvolvimento desse tema tão importante? Então leia nosso artigo sobre obras de saneamento no Brasil: um panorama sobre a situação e seus avanços.
BRK
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