Existem várias discussões acerca do aquecimento global e todos os impactos que ele pode provocar no meio ambiente e na sociedade nos próximos anos. A mais urgente delas diz respeito ao que se pode fazer para diminuir os seus efeitos e mitigar as graves consequências que ele causa no planeta.

Apesar da necessidade de líderes globais e grandes empresas terem que se comprometer a realizar mudanças consideráveis, nós, enquanto indivíduos, também podemos encontrar meios de contribuir para essa redução.

É exatamente sobre isso que vamos falar neste artigo. Para isso, convidamos Julia Padovezi, consultora de sustentabilidade corporativa, a fim de bater um papo e explicar melhor as questões ligadas ao tema do aquecimento global. Você se interessa pelo assunto? Então, continue a leitura para saber mais!

Aquecimento global: o cenário atual

Julia afirma que aumentou o número de pessoas preocupadas e sensibilizadas com a causa ambiental. “Em uma pesquisa feita pelo instituto Akatu, o brasileiro prefere claramente o caminho da sustentabilidade ao do consumo e 28% dos brasileiros são considerados consumidores conscientes — número que é composto majoritariamente por mulheres acima de 30 anos”.

Os consumidores indiferentes, ou aqueles que não praticam muitas ações de consumo sustentável, por outro lado, são jovens do sexo masculino — e o número de indiferentes está diminuindo, de acordo com o estudo.

Apesar disso, ainda temos um longo caminho pela frente, pois sustentabilidade é o contrário de comodidade. Isso significa que temos que mudar de hábitos e arregaçar as mangas para praticá-la, e muitas pessoas ainda não estão dispostas a fazer esse tipo de esforço.

Além dessa mudança no pensamento e na atenção para o aquecimento global, podemos observar algumas consequências que esse efeito tem causado. Nos tópicos a seguir, mostramos qual é o cenário atual do ponto de vista das alterações climáticas.

As temperaturas estão mais quentes

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o mundo todo está um grau mais quente do que as temperaturas até 1900 (antes do processo de industrialização). Os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados globalmente, e o aquecimento foi causado por concentrações cada vez maiores de gases de efeito estufa e acúmulo de calor.

Mesmo que muitas pessoas defendam que o aumento da temperatura seja natural, os aumentos são sucessivos , ou seja, desde a década de 1980, cada período sempre apresenta temperaturas mais altas que o anterior.

Ainda estamos longe de alcançar as metas

Mesmo que os países participantes do Acordo de Paris consigam diminuir a emissão de gases do efeito estufa, o mundo todo ficaria mais quente em 3ºC até 2100. A comunidade científica afirma que é necessário manter esse aumento em, no máximo, 1,5 °C para evitar consequências graves para o planeta.

China e EUA lideram a lista de emissão de gases do efeito estufa

Ambos os países estão no topo da lista de maiores emissores dos gases de efeito estufa. Juntos, eles somam mais de 40% das emissões geradas em todo o globo. Ainda assim, a discrepância entre a China (1º) e os EUA (2º) é bem grande.

Espécies ameaçadas de extinção nas próximas décadas

A poluição, a exploração florestal, o uso desenfreado dos recursos naturais e práticas não sustentáveis encontradas por vezes no agronegócio, somadas ao aquecimento global, ameaçam o meio ambiente e diversos ecossistemas. A estimativa é de que um milhão de espécies da fauna e da flora desapareçam nos próximos anos.

Consequências do aquecimento global

Não é segredo que o aquecimento global pode trazer consequências devastadoras para o planeta. Nos tópicos a seguir, mostramos as principais delas.

Impactos consideráveis na produção de alimentos

O aumento de apenas 1°C na temperatura do planeja gera consequências para a produção de trigo, arroz e milho, diminuindo as safras. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para essas quedas.

Essas consequências podem ser percebidas até mesmo pelo Brasil. Se o Acordo de Paris não for cumprido e a temperatura aumentar em 3°C, nós podemos perder capacidade de produção agrícola, incluindo a pecuária e até mesmo as exportações.

Problemas de saúde

O aumento da temperatura, associado à diminuição na produção de alimentos para consumo, vai agravar problemas de fome e desnutrição de populações mais pobres. Além disso, soma-se a poluição do ar, que vai agravar problemas respiratórios, como a asma. Para crianças, que ainda não têm o sistema imunológico desenvolvido, as consequências podem ser ainda maiores.

Acidificação dos mares

O dióxido de carbono (CO2) que é emitido também afeta os oceanos, além da atmosfera. As consequências disso são o aumento da acidificação dos mares. Ao longo dos anos, caso o Acordo de Paris não seja cumprido, esse número chegará a níveis que vai fazer grande parte da vida marinha desaparecer até o final do século.

Aumento no nível do oceano

Ao longo dos anos, o nível dos oceanos vem aumentando. Com o degelo que tende a acontecer na Antártica e na Groenlândia, é possível que ele cresça alguns bons metros em algumas centenas de anos. Aqui no Brasil, cidades litorâneas como Rio de Janeiro, Recife e Salvador sofrem um risco maior.

Principais medidas tomadas para o seu combate

Há uma série de medidas que podem ser adotadas para controlar o aquecimento global e frear os impactos que ele tende a gerar ao longo dos anos. Nos tópicos a seguir, mostramos algumas delas.

Protocolo de Kyoto

O Protocolo de Kyoto teve início em 1995, quando vários países se envolveram em negociações voltadas para criar respostas às mudanças que vinham acontecendo no mundo. Ele foi firmado em 1997.

O documento determina as orientações necessárias para que os países consigam cumprir metas para diminuir a emissão de gases do efeito estufa. A primeira fase terminou em 2012. Agora, os entraves envolvem a não participação dos Estados Unidos (por não validá-lo) e da China (que ainda é um país em desenvolvimento) – lembrando que esses países são os dois maiores emissores.

Ajuda para países em fase de desenvolvimento

O Fundo Verde para o Clima é uma instituição criada para fazer a gestão de ajuda financeira enviada aos países mais pobres. Estados Unidos, Japão e União Europeia firmaram o compromisso de enviar contribuições que chegam a dezenas de bilhões de dólares.

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC) foi criada em 1992 pela Cúpula da Terra e é considerada um dos primeiros passos dados com o objetivo de combater o aquecimento global.

As partes, 197 países participantes, têm como objetivo encontrar meios de impedir que a humanidade interfira de forma negativa no sistema climático e evitar que as consequências sejam permanentes para as próximas gerações.

Acordo de Paris

O Acordo de Paris foi celebrado durante a 21ª Conferência das Partes da UNFCCC. O objetivo é adotar ações coordenadas para combater as mudanças climáticas, além de intensificar e acelerar as medidas e todos os investimentos que visam criar condições para um futuro com baixo carbono e mais sustentável.

Esse se resume ao esforço em comum para o combate às alterações climáticas e as adaptações às suas consequências. As nações envolvidas têm esse mesmo objetivo e se dispõem a ajudar os países que ainda estão em desenvolvimento.

Os principais desafios no combate ao aquecimento global

Os inúmeros desafios enfrentados no combate ao aquecimento global atrasam ou até mesmo impedem o alcance dos resultados esperados em relação ao avanço das alterações climáticas. A seguir, mostramos os principais deles e como elas afetam o desempenho.

Destruição das florestas

O desmatamento é um problema mundial, mesmo que esteja concentrado em algumas regiões mais específicas. As consequências são devastadoras:

  • destrói recursos naturais;
  • desequilibra ecossistemas;
  • contribui para perda da biodiversidade local;
  • expõe o solo à erosão;
  • aumenta a desertificação;
  • intensifica o efeito estufa.

A prevenção da destruição das florestas e a proteção dos ecossistemas que fazem parte delas são um dos pontos mais básicos quando falamos da diminuição da emissão de carbono.

É necessário cessar com o desmatamento, uma vez que as plantas, especialmente árvores e algas, absorvem parte do CO2 que é emitido. Além disso, também é importante reflorestar algumas áreas e promover a restauração de ecossistemas que já foram prejudicados, como os mangues.

 Excesso de CO2

Além de vir aumentando nos últimos anos, a emissão de CO2 não apresenta nenhum sinal de que está sendo contida. No final de 2021, o Boletim de Gases do Efeito Estufa, emitido pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM), mostrou que o ano de 2020 bateu recordes de concentração e continuava a subir em 2021. Naquele ano, a concentração de CO2 era 149% acima do nível pré-industrial

É por isso que o cumprimento dos tratados firmados entre as nações se faz tão importante para alcançar os objetivos de diminuição dos gases. Esse é um dos pontos principais quando falamos de frear o aquecimento global.

Como você pode contribuir para diminuir os efeitos do aquecimento global

De acordo com Julia, “primeiramente, devemos ter em mente que nenhuma ação é pequena demais diante do cenário de aquecimento global. Muitas pessoas deixam de focar suas ações em sustentabilidade, pensando não ser relevante para o planeta, mas é importante esclarecer que cada atitude importa”. 

Enquanto boa parte dos esforços para frear o aquecimento global precisam vir dos governos, isso não significa que nós, enquanto cidadãos, não podemos fazer nada para contribuir. A seguir, listamos algumas mudanças que pode ser adotadas no dia a dia.

Reduzir o consumo de produtos de origem animal

A recomendação do IPCC é a de diminuir o consumo de produtos de origem animal, como carne, queijo, manteiga e leite. O ideal é que se dê preferência para a produção local e os alimentos da época (chamados de sazonais).

Uma mudança, ainda que simples, na dieta já ajuda a diminuir o impacto ambiental na Terra. A redução do consumo de carne é uma das que mais geram mudanças positivas, devido às emissões de carbono produzidas pela indústria.

Para criar gado de corte utilizando áreas desmatadas, gera-se uma emissão de gases do efeito estufa muito maior do que com animais criados em campos naturais para a pastagem. Isso sem contar os números elevados de:

  • consumo de água;
  • geração de resíduos;

A campanha Segunda sem Carne é um bom exemplo de como pequenas mudanças podem trazer impactos positivos. A proposta é a de estimular as pessoas a ficarem pelo menos um dia da semana sem consumir nenhuma proteína animal.

Reduzir os desperdícios

A redução de desperdícios também é outro ponto importante, pois quando há desperdício, há aumento no consumo, uma vez que os alimentos e produtos não são totalmente aproveitados. Isso sem contar o aumento na produção de lixo.

No caso dos alimentos, por exemplo, é possível adotar uma rotina de quase lixo zero. Além de poder usar algumas partes, como folhas, cascas e talos, para cozinhar novos pratos, você também pode usar as sobras para fazer uma composteira.

Uma das grandes vantagens é que ela pode ser usada para cultivar sua própria horta. Assim, terá alguns orgânicos sempre disponíveis na mesa. Esse é um dos passos para ter um consumo consciente.

A diminuição do desperdício também vale para evitar o racionamento de água, que pode acontecer em períodos de seca.

Diminuir a produção de lixo

Evite, sempre que puder, comprar produtos que vêm embalados em plástico e muitas camadas. Aposte na utilização das sacolas retornáveis. Elas são baratas e ajudam a economizar bastante o uso de sacolinhas.

Além disso, tente reciclar e reaproveitar o máximo de itens que puder. Se for o caso, faça uma separação do lixo para promover descarte seletivo e disponibilize para catadores independentes ou cooperativas de reciclagem.

A decomposição de todo o lixo que produzimos gera a liberação de metano, CO2 e outros gases que intensificam o efeito estufa e contribuem para o aquecimento global. Em um cenário ideal, esses gases seriam utilizados para gerar eletricidade.

Na hora de pensar em colocar o lixo para fora, lembre-se que não há “lá fora”. Os nossos resíduos continuam se acumulando no planeta e sendo prejudiciais para o meio ambiente, contribuindo para aumentar o efeito estufa, poluir rios e mares, entre outros danos.

Usar mais o transporte público

Meios de transporte que se locomovem com base na queima de combustíveis fósseis são grandes responsáveis pela emissão dos gases do efeito estufa. Isso ocorre de forma ainda mais intensa nos grandes centros urbanos, um dos fatores que tornam as grandes cidades mais poluídas.

Portanto, dê mais prioridade ao uso do transporte público e, dependendo de onde você mora, caminhe e ande de bicicleta. Além de fazer bem para o meio ambiente, a sua saúde também agradece.

Outra vantagem é a diminuição dos engarrafamentos e, consequentemente, do tempo que perdemos no trânsito.

Priorizar o consumo local

Além de dar preferência para produtores locais na hora de comprar os alimentos, tente adotar essa escolha para outros itens, como roupas e acessórios. Esses casos não demandam transporte de longas distâncias.

Isso representa menos caminhões rodando e menos emissão de gases do efeito estufa para realizar as entregas. Sem contar que isso ajuda a valorizar os pequenos produtores e fortalecer a economia local.

Valorize a economia colaborativa

A economia colaborativa — também chamada de economia compartilhada — é um conceito que vem ganhando cada vez mais espaço na sociedade, especialmente depois do surgimento de empresas como Enjoei, Yellow Bike e Uber.

A ideia é compartilhar bens e serviços por meio de empréstimo, aluguel ou qualquer outro modelo de contrato. Dessa forma, em vez de adquirir, as pessoas realizam essas trocas, que ajudam a diminuir os efeitos consideravelmente.

Além disso, tem a redução no consumo, que também tem um papel importante no cuidado com o meio ambiente, principalmente quando falamos de geração de resíduos e do descarte desses materiais que, se forem feitos de forma inadequada, contribuem para provocar grandes enchentes nas cidades.

Utilizar menos o ar-condicionado

O equipamento de ar-condicionado libera gases como o hidrofluocarboneto (HFC), que se acumulam muito rápido na atmosfera e contribuem para intensificar o efeito estufa, o que tem consequências na temperatura do planeta.

Parece algo controverso, um recurso que ajuda a resfriar ambientes contribuir para o aquecimento global e tornar a terra um lugar mais quente, não é?

Eles foram criados para substituir o CFC e estão presentes também em solventes e equipamentos de refrigeração, por exemplo. Mesmo representando uma parcela pequena dos gases do efeito estufa, em grandes quantidades, os impactos gerados são enormes.

Promover caronas

Se você tem colegas que fazem um percurso parecido para o trabalho, pode sugerir caronas compartilhadas. Se forem 3 pessoas, por exemplo, já são 2 veículos a menos no trânsito e poluindo a atmosfera com CO2.

Isso também vale para a realização de viagens. Existem grupos específicos para promover o encontro de quem tem a oferecer e quem busca a carona para ir até determinados lugares. É o tipo de negócio em que todos saem ganhando — principalmente você, que, provavelmente, vai gastar menos com o deslocamento.

Questionar a origem dos produtos

Muitos de nós já nos tornamos mais conscientes sobre a responsabilidade que temos com o meio ambiente e o cuidado com o nosso planeta. Com isso, vem aquela necessidade de questionar mais sobre os produtos que compramos e de quais marcas adquirimos.

Saber como são os processos produtivos, o regime de trabalho empregado (inacreditavelmente ainda existem empresas que empregam trabalhadores em condições análogas à escravidão), o tipo de material utilizado e o impacto que o item gera para o planeta também faz parte dos hábitos que podem ser mudados e que farão toda diferença.

E se você tem uma visão ainda mais ampla sobre o assunto, pode ir além e optar por não comprar de empresas que não são “cruelty free” (cujos processos não envolvem testes em animais), por exemplo.

Uma visão sobre o futuro do planeta

“Precisamos investir em tecnologia para que a indústria, a agropecuária e os meios de transporte sejam cada vez menos poluentes. Falta muito estudo e investimento em energia limpa, design sustentável e economia circular, e só assim vamos conseguir reduzir as emissões”, explica Julia.

Por outro lado, Julia complementa afirmando que, desde 2019, demos um passo atrás na preservação da Amazônia, que é uma área verde muito importante para o equilíbrio do aquecimento global. Desse modo, é preciso rever as políticas públicas de fiscalização e preservação da floresta também.

Com as mudanças climáticas e depredação no meio ambiente, podemos esperar uma série de eventos mais recorrentes e cada vez mais intensos. Entre os exemplos de como eles podem surgir, podemos citar:

É claro que é difícil colocar a responsabilidade de catástrofes específicas exclusivamente nas alterações que vêm ocorrendo no clima e no ambiente. Porém, cientistas do mundo todo têm opiniões semelhantes de que a tendência é a de que esses eventos sejam cada vez piores.

Se formos considerar uma pequena elevação na temperatura do planeta, algo em torno de 1,5°C acima, a previsão é a de que os períodos tanto de seca quanto de chuvas sejam ainda mais intensos.

Qualquer coisa acima disso já evolui para tufões, ciclones e furacões ainda mais fortes. É por isso que o Acordo de Paris se mostra tão importante e urgente. Deve-se unir esforços a fim de minimizar os impactos que causamos no meio ambiente e que contribuem para o aquecimento global e o desaparecimento de várias espécies.

O aquecimento global é um problema multifatorial e que depende da contribuição de todos para ser minimizado, especialmente governos e grandes corporações. No que diz respeito à sociedade, algumas mudanças na rotina, principalmente nos hábitos de consumo, já podem fazer diferença na emissão de gases do efeito estufa.

Por falar em poluição, elaboramos um artigo para explicar quais são os problemas causados pelo despejo de esgoto sem tratamento nos rios. Não deixe de conferir e ampliar seus conhecimentos sobre o assunto!