Dependendo do local do Brasil onde você está, é provável que você esteja pisando agora sobre uma enorme reserva de água. E não estamos falando de um oceano, ou mesmo de um rio. Trata-se do Aquífero Guarani.

Se você nunca ouviu falar dele ou quer saber mais sobre a importância da preservação desse reservatório, acompanhe este texto, que traz tudo sobre um dos maiores aquíferos do mundo. Continue a leitura!

O que é o Aquífero Guarani?

Um aquífero é uma formação geológica que permite que a água se acumule em estruturas naturais subterrâneas. Desse modo, a água armazenada por elas pode ser utilizada para o abastecimento da população. Um ponto interessante dos aquíferos é que a água costuma atravessar áreas porosas até chegar no espaço onde ela ficará armazenada, o que faz com que aconteça um processo de filtragem natural.

A formação de um aquífero é lenta e demanda condições bastante específicas. A primeira delas é o tipo das rochas subterrâneas, que devem ser porosas ou formarem um espaço para o armazenamento da água. Depois, é necessário contar com a presença de água de forma constante, já que ela vai se infiltrando de forma lenta e compondo a reserva.

O Aquífero Guarani, por sua vez, é um desses reservatórios naturais de água subterrânea. Ele é um dos maiores do mundo e o principal aquífero com área distribuída em diversos países.

Trata-se de uma reserva de um milhão de quilômetros quadrados e um volume superior a 37 mil quilômetros cúbicos ao longo de quatro países: Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai. Dentro do território brasileiro, o Aquífero Guarani atravessa oito estados: São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Vários desses estados já conheciam diversos reservatórios de água subterrânea desde meados do século XIX. No entanto, foi só a partir dos anos 90 que pesquisas começaram a desconfiar de que esses blocos de água esparsos por um vasto território eram interligados.

Com isso, em 2003, foi delimitado o que conhecemos hoje como Aquífero Guarani. O nome é uma homenagem aos povos indígenas que ocuparam esse território nos séculos anteriores.

Qual a importância do Aquífero para o Brasil?

Quando o aquífero foi descoberto, a expectativa era de que ele pudesse suprir com folga a demanda de água de boa parte da população cujo território compõe o reservatório subterrâneo.

No entanto, o cenário é um pouco mais complicado, por conta das características de cada setor do aquífero, e pelas regiões nas quais a água está sob espessas camadas de rochas, o que faz com que o acesso a ela seja mais difícil.

De todo modo, em parte da extensão do aquífero a potabilidade da água é boa, com exceções onde a presença de flúor é naturalmente elevada. Na região Sul do país, o acesso à água do aquífero é um pouco mais complicado devido ao solo. Na Argentina e no Uruguai, a água dos reservatórios costuma ter alta salinidade.

Essa variação ao longo de toda extensão do aquífero não significa que ele é menos importante do que deveria. Muitas cidades lançam mão dessa água subterrânea para garantir o abastecimento da população.

O estado de São Paulo é um bom exemplo disso. De acordo com dados da Agência Nacional de Águas (ANA), 17% da demanda de água dos paulistas, principalmente na região centro-oeste, vem do aquífero. Cidades como Bauru, Araraquara, Ribeirão Preto (totalmente abastecida por essa fonte) e São Carlos estão entre os principais usuários do Aquífero Guarani.

Em outros pontos servidos pelo aquífero, a água também é amplamente empregada para sistemas de irrigação na agricultura, garantindo a produção de alimentos sem os quais isso não seria possível.

Por que devemos nos preocupar com sua preservação?

De maneira geral, um aquífero pode fornecer água constantemente, desde que se respeite sua capacidade de recarga. Ou seja, a extração precisa ser mais lenta do que a quantidade de água que volta para o reservatório, principalmente por meio das chuvas, para que não haja estresse nas reservas. Nesse ponto é preciso ficar atento, uma vez que a recarga não acontece de forma uniforme e se dá de maneira muito lenta.

Isso varia de acordo com as características da rocha que reveste cada área do aquífero. Regiões com rocha mais permeável tendem a ter recargas mais rápidas. Quando a extração de água é maior que a velocidade de recarga, o aquífero passa pelo que se chama de “rebaixamento”, o que deve ligar o sinal de alerta de quem explora essas reservas. Tal situação já acontece em algumas cidades, que extraem grandes volumes para abastecimento dos seus moradores.

Outra preocupação é com poluentes da água que podem impactar o aquífero. Alguns produtos químicos (como defensivos agrícolas) e processos industriais podem gerar resíduos que se infiltram e chegam até a área de armazenamento de água.

Problema similar acontece com lixões sem o acondicionamento adequado do material, já que a sua decomposição gera um líquido que também pode chegar até as águas do aquífero e contaminá-lo.

É por isso que existem cada vez mais iniciativas concentradas em restaurar e preservar as chamadas áreas de recarga do aquífero, local onde a infiltração de água para reabastecimento das reservas acontece. Isso faz com que o líquido que volta para o aquífero consiga fazer isso sem levar junto substâncias contaminantes, garantindo a segurança da água armazenada.

Por passar por vários países, é importante que as ações de conservação do aquífero sejam feitas de forma interligada e coordenada. Com isso em vista, desde 2010, Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai assinaram um acordo para coordenar os esforços de gestão e preservação da água do aquífero.

O Aquífero Guarani é um importante patrimônio natural de todos os países que ele atravessa e uma fonte importantíssima de abastecimento para um grande número de pessoas. Dessa forma, é importante conhecer sua relevância e agir para conservá-lo, garantindo que ele possa fornecer água ainda por muito tempo.

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